Acompanhe a evolução da roda em 100 anos de história do automóvel. Modelo mais recente remete à década de 1920!
Texto: Aurélio Backo
Fotos: Divulgação
Evolução da roda
Há mais de cem anos o automóvel povoa as estradas mundo afora. Inicialmente era apenas uma simples charrete sem cavalos e evoluiu para modelos nos quais o estilo é tão importante quanto seu desempenho na estrada. Apesar disso, um elemento com grande importância no estilo dos carros permanece por mais de cem anos com a mesma forma: as rodas.
O Benz 1879 foi considerado o primeiro carro produzido. O modelo utilizava rodas raiadas calçadas com pneus de borracha maciça. Essas rodas pareciam com as de bicicleta e, como tal, não muito robustas. Com a evolução do carro foram necessárias rodas mais fortes e o material escolhido para fazê-las não parecia o mais apropriado: a madeira.
Rodas de madeira
O primeiro carro produzido por Henry Ford, em 1896, dentro da sua própria casa, usava rodas raiadas de metal. Já o primeiro carro produzido por sua fábrica, em 1903, a Ford Motor Company, utilizava rodas com raios de madeira. As carroças, até então o meio de transporte utilizado por todos, sempre usaram rodas feitas com madeira. Esse tipo de roda era empregado desde o tempo dos egípcios. Para evitar o desgaste prematuro, elas eram revestidas externamente com uma lâmina de metal. Num automóvel, o aro externo, onde eram instalados o pneu e a câmara, também era feito de metal. Metal também era empregado no miolo da roda. A madeira era usada nos raios e eventualmente na base externa. A madeira extraída da nogueira era a mais usada, pois era dura e resistente.
Rodas raiadas
No final da década de 1920, os fabricantes começaram a ofertar a opção de rodas metálicas raiadas, mais leves que as similares em madeira. A Ford passou a oferecer essa opção em 1926, e o pneu usado era o mesmo do aro de madeira, de 21 polegadas. A partir do modelo de 1928, a Ford descontinuou os aros de madeira. Os Ford foram equipados com aros raiados apenas até 1935. Por sorte estes últimos modelos eram aros de 16 polegadas de diâmetro. Esse aro, do Ford 1935, se tornou nos anos seguintes muito popular entre os rodders, pois havia uma boa oferta de pneus nessa medida.
Outra faceta das rodas raiadas é a associação com carros esportivos. Modelos de Ferrari da década de 70 ainda eram equipados com este tipo de roda. Diferentemente das rodas de um Fordinho, as rodas esportivas eram feitas com materiais de primeira qualidade e com sistema de engate rápido. Nesse sistema, a roda era presa aos eixos por uma enorme porca central do tipo borboleta.
Rodas de metal estampadas
Em 1927, o comprador de um luxuoso Cadillac podia escolher entre três opções de rodas. A primeira opção, seis rodas com raios de madeira, custariam 200 dólares. Duas rodas eram os estepes, montados nas laterais do carro, em um nicho na parte traseira dos para-lamas dianteiros. Se a escolha fosse por seis rodas raiadas de metal, o valor cairia para 175 dólares. E a terceira opção, a mais barata, eram rodas de metal estampadas, que custariam 25 dólares o jogo com seis unidades. O desenho dessas rodas era quase plano, todo fechado e sem calota, por isso eram chamadas de rodas “disco”. Apesar de mais em conta, as rodas estampadas só “decolariam” vários anos depois.
Rodas de metal estampadas se tornaram o padrão nos Ford de 1936. Diferentemente das rodas “disco”, essas rodas tinham partes vazadas e usavam uma calota grande para esconder os parafusos. Essa roda era fixada nos tambores com cinco parafusos num diâmetro maior que o padrão usado até 1935. Em 1940 as rodas dos Ford voltaram a usar a mesma furação de 1935, uma calota menor e não tinham furos. Essa roda de 16 polegadas equipou os Ford até 1948 e veio a se tornar a roda padrão dos hot rods na década de 50. E esse modelo continua sendo extremamente popular até hoje, na versão de 15 polegadas.
Rodas de ligas leves
Fundidas em alumínio ou magnésio, as rodas de liga leve viriam a se tornar, a partir do começo da década de 60, a roda padrão de um hot rod. Sua única desvantagem seria o maior custo de fabricação. Já as vantagens seriam várias. A principal era o menor peso, que facilitaria, e muito, o trabalho da suspensão. O alumínio e o magnésio têm melhor condução térmica que o ferro, e o calor gerado pelos freios seria melhor dissipado. Por fim, o processo de fabricação por fundição permite a criação de qualquer desenho de roda.
Esse modelo de roda apareceu pela primeira vez no Bugatti Type 35 de 1924, bem na época das rodas de madeira. Pelo maior custo, ficava restrito a carros de competição de velocidade. O primeiro carro americano de linha a usá-las foi a Cadilac 1955, mas apenas o miolo da roda era feito de alumínio.
Nos hot rods as rodas de liga se tornaram populares por conta da empresa norte-americana American Racing Equipment, com o lançamento da roda “Torq-Thrust”, no começo da década de 1960. Com um desenho simples e elegante, esse modelo continua sendo fabricado e equipando hot rods mundo afora (no Brasil esse desenho é conhecido como “roda palito”).
Outra versão das rodas de liga são as rodas “billet”. Essas rodas são feitas a partir de um bloco maciço de alumínio, que é “esculpido” por uma máquina controlada por um computador (torno CNC). Este processo permite a fabricação de peças únicas e personalizadas.
O americano Boyd Coddington foi o pioneiro na fabricação dessas rodas, que se tornariam uma febre nos hot rods no começo da década de 80.
Rodas de fibra de carbono
O atual “estado da arte” em rodas são as feitas em fibra de carbono, material mais leve e resistente que o metal. A fibra de carbono foi desenvolvida em 1958 e foi empregada pela primeira vez pela indústria aeronáutica em 1969. O primeiro carro de produção a utilizar rodas com este material foi o Ford Mustang GT350 2015. Cada uma dessas rodas de fibra são 6 quilos mais leves que as similares em alumínio. Portanto, logo teremos essas rodas em algum hot. E veja que desconcertante: essas rodas de última geração têm o mesmo desenho básico das pioneiras rodas de madeira.
*Matéria publicada na edição #135 da revista Hot Rods.
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