Conheça alguns “truques” para aumentar a potência do motor do seu hot e tirar dele uns “cavalinhos” a mais
Texto: Manoel G. M. Bandeira Fotos: Divulgação
No artigo anterior (publicado aqui em nosso portal na última quinta-feira) vimos que a eficiência volumétrica de um motor a combustão interna é a capacidade que o motor tem de aspirar o maior volume de mistura ar/combustível possível.
Se aumentarmos a quantidade de mistura ar/combustível dentro da câmara de explosão, estaremos automaticamente aumentando a potência do motor, pois a maior força da explosão gera mais energia. Energia esta que é a responsável direta pelos cavalos vapor (cv).
Mas como podemos melhorar a respiração do motor? Como fazer com que o mesmo motor admita uma quantidade maior de mistura ar/combustível? Uma das maneiras mais utilizadas é a troca do comando de válvulas por outro com maior grau de abertura das válvulas e com maior levante.
O comando de válvulas é um eixo com vários ressaltos excêntricos que, com a rotação do eixo, atuam diretamente sobre as válvulas ou através de balancins para comandar a abertura e o fechamento das mesmas.
Comando “bravo”
Um comando “bravo”, como se costuma dizer, é aquele em que o tempo de abertura das válvulas, principalmente as de admissão, é maior do que o original do motor, fazendo com que o motor admita uma quantidade maior de mistura. Outro detalhe que aumenta a aspiração do motor é o levante. Chama-se levante a abertura da válvula propriamente dita, ou seja, um comando com levante maior empurra a válvula um pouco mais, aumentado o espaço para entrada de ar e combustível.
Devemos tomar muito cuidado com os comandos “bravos”, pois alguns deles têm levantes tão altos que podem fazer com que as válvulas se choquem com a cabeça do pistão quando este se aproxima do porto morto superior. Então, quando trocamos o comando por outro não original, é essencial que se tome o cuidado de medir a abertura de válvulas para que se tenha a certeza de que existe espaço suficiente para que a válvula trabalhe sem causar danos ao motor.
Em alguns casos é necessário cavar a cabeça do pistão, criando o espaço necessário para que a válvula trabalhe livre. Nos motores mais modernos, que operam com taxas de compressão muito altas e, consequentemente, câmaras de combustão muito pequenas, diminuindo o espaço entre o pistão e as válvulas, quando a correia do comando de válvula se parte com o motor em funcionamento geralmente o estrago é bem grande. O choque com a cabeça do pistão acaba entortando válvulas e às vezes até mesmo rachando bloco e cabeçote.
Aumentar o tamanho das válvulas também é uma boa alternativa. As limitações são o espaço da câmara de combustão e o diâmetro do cilindro. Há alguns anos tive a oportunidade de abrir um motor Ford 427 e fiquei espantado com o tamanho das válvulas de admissão. Elas eram tão grandes que foi necessário cavar um pouco o bloco do motor para permitir que as válvulas abrissem totalmente.
Outras providências
Agora, se você não quer gastar muito comprando comandos diferentes ou mesmo aumentando o tamanho das válvulas, você ainda assim pode melhorar a aspiração do seu motor. Basta polir o pé das válvulas, que geralmente tem bastante rugosidade. Isso acontece principalmente em motores mais antigos. Mudar a angulação de assentamento das válvulas também é uma boa alternativa. Este trabalho, no entanto, deve ser realizado por alguém que entenda bem do assunto. As válvulas devem ser bem assentadas em suas sedes, evitando vazamentos que possam causar perda de potência.
O retrabalho dos dutos de admissão também pode melhorar seu motor trazendo alguns cavalinhos a mais. Para isso você deve polir os dutos, retirando todas as rebarbas e defeitos de fundição. Aumentar o diâmetro dos dutos é um trabalho criterioso, pois se você aumentar demais o diâmetro do duto, acreditando que assim seu motor estará respirando melhor, na verdade você pode estar causando justamente o efeito contrário.
Os dutos são calculados de forma a que, quando o pistão desce, sugando a mistura ar/combustível, se forme uma pressão positiva dando velocidade à mistura. A velocidade do ar dentro dos dutos de admissão é importante para que o enchimento do cilindro seja maior. Então, se aumentarmos o diâmetro do duto de forma errada, podemos diminuir a velocidade dos gases e isso desfavorece a performance.
Cuidado com excesso
Polir demais os dutos também pode trazer outro problema, principalmente em motores carburados. Quando o carburador injeta combustível, com o acionamento do injetor de rápida nas acelerações, o combustível ingressa nos dutos de admissão na forma líquida. Porém, ele deve ser vaporizado antes de entrar no cilindro. Desta forma, se os dutos estiverem lisos demais, o combustível pode escorrer na forma líquida para dentro do cilindro.
Quando isso acontece, além de piorar a queima, pois o combustível não estará totalmente homogeneizado com o ar, ainda teremos o agravante de que o combustível na forma líquida pode literalmente lavar a parede do cilindro, limpando o óleo lubrificante. Isso irá aumentar o atrito do pistão com a camisa. Neste caso, além da perda de potência pela queima errada, também perderemos potência pelo aumento do atrito do pistão com a camisa do cilindro. E, o pior de tudo, teremos um desgaste prematuro do conjunto pistão, anéis e cilindro.
A maneira ideal de trabalharmos os dutos é polir retirando todas as rebarbas sem aumentar muito o diâmetro, principalmente na parte mais próxima ao cabeçote. Devemos retirar qualquer degrau negativo ou positivo que possa existir no acoplamento do coletor de admissão com a entrada do cabeçote, para evitar turbulências. Depois dos dutos polidos, devemos submetê-los a um jateamento com areia ou microesferas de vidro, causando assim uma aspereza fina que terá o efeito de segurar as particulas de combustível até que elas se vaporizem pelo calor, evitando assim que este escorra para o cilindro.