Texto: Bruno Bocchini<\/em> Era na garagem de casa, em meio aos berros da m\u00e3e, que reclamava do cheiro de tinta e poeira, que Jorge Naguib Khouri, ao lado do pai, restaurava um Jeep Willys 1967. O ano era 1988 e o Willys o primeiro ve\u00edculo da trajet\u00f3ria do empres\u00e1rio de S\u00e3o Paulo, hoje com 43 anos, at\u00e9 conquistar o cl\u00e1ssico Ford 1929.<\/p>\n “Esse Willys foi meu primeiro carro e nunca me esquecerei dele. No final de 1995 recebi uma proposta irrecus\u00e1vel para vend\u00ea-lo. Passaram-se alguns anos at\u00e9 que minha condi\u00e7\u00e3o financeira pudesse me proporcionar converter o sonho em realidade”, comenta Jorge.<\/p>\n Ao contr\u00e1rio de muitos que assistiram ao filme norte-americano \u201cAmerican Graffit\u201d ou \u201cLoucuras de Ver\u00e3o\u201d no Brasil \u2013 em que o foco das cenas era voltado para o modelo \u201ctr\u00eas janelas\u201d, Jorge j\u00e1 seguia outra linha de prefer\u00eancia e sempre foi fissurado pelo Tudor. “Na inf\u00e2ncia, enquanto assistia ao desenho \u201cCorrida Maluca\u201d, torcia para a Quadrilha da Morte s\u00f3 porque o carro era parecido com um Tudor. Queria de qualquer forma ter um modelo igual ou parecido”, refor\u00e7a.<\/p>\n Com o gosto moldado pelas d\u00e9cadas de 1950 e 60, fase em que afloravam as culturas rocker e hot rod, Jorge garante que pensava em conceber um projeto para um autom\u00f3vel pr\u00f3prio com as caracter\u00edsticas antigas, sem aplica\u00e7\u00e3o de tecnologia e outros “mimos”. “Comecei esse projeto do Tudor em 2012. Tinha em mente construir um hot como sendo de \u00e9poca mesmo \u2013 sem ar-condicionado, dire\u00e7\u00e3o hidr\u00e1ulica ou vidros el\u00e9tricos. Buscava a ess\u00eancia dos hot rods. Inclusive, queria colocar um Flathead V8, mas no Brasil este tipo de motor \u00e9 muito dif\u00edcil de encontrar”, lamenta.<\/p>\n Diante de pesquisas em sites norte-americanos, Jorge reparou nos modelos mais rebaixados. E n\u00e3o teve d\u00favidas em colocar a ideia no papel. “Cheguei a fazer uma viagem para Las Vegas e percebi que l\u00e1 os carros antigos andavam bem rebaixados, raspando no asfalto, e com teto tamb\u00e9m reduzido. Botei isso no papel com o desenho projetado pelo Leonardo Castilho, da Cast Design”, explica o entusiasta.<\/p>\n Mas foi a falta de experi\u00eancia no segmento que atravancou o caminho para o sucesso, segundo conta Jorge. O in\u00edcio da restaura\u00e7\u00e3o do Ford Tudor 1929 foi conturbado. “Sem conhecer direito a oficina, acabei pagando sem receber o carro do jeito que queria. Al\u00e9m do dinheiro perdi muito tempo e nesse per\u00edodo comecei a me aprofundar no cen\u00e1rio. Por meio da revista Hot Rods vi alguns an\u00fancios de oficinas, foi quando conheci o Norberto da Hot & Customs”, comenta.<\/p>\n O profissional Norberto Jensen, de S\u00e3o Paulo, foi quem analisou a restaura\u00e7\u00e3o do Tudor e, posteriormente, aceitou o desafio em retrabalhar o projeto. “Eu lembro que fiquei muito ansioso pela visita do Norberto. N\u00e3o dormi na noite anterior. Quando ele topou pegar o trabalho foi um sonho realizado para mim. Ali\u00e1s, queria aproveitar para agradecer a ele e toda equipe da Hot & Customs porque o carro ficou demais”, sugere Jorge.<\/p>\n Lado escuro<\/strong><\/p>\n Talvez a maior dificuldade encontrada por Norberto tenha sido a carroceria em fibra de vidro para o Tudor 1929. Os profissionais tiveram que praticamente refazer o servi\u00e7o porque havia muitas bolhas. Ap\u00f3s essa a\u00e7\u00e3o, foi colocada uma esp\u00e9cie de gaiola com tiras de a\u00e7o para refor\u00e7ar todo o conjunto. O chassi j\u00e1 havia sido projetado pelo profissional Marcio, da empresa Believe Kustom Works, que atualmente trabalha na oficina AC3. Sendo que a parte de mec\u00e2nica, adapta\u00e7\u00f5es, carroceria, pintura, freios e el\u00e9trica passaram a ser atividades da Hot & Customs.<\/p>\n O Ford Tudor 1929 ganhou f\u00f4lego com o bloco smal block 318 Dodge alimentado por Tunnel Ram \u2013 com dois carburadores quadrijet 460 cfm e coletor de admiss\u00e3o em alum\u00ednio tamb\u00e9m com dois quadrijets Holley 450 cfm mec\u00e2nicos. Outro detalhe foi direcionado para o escapamento, Lan Fire c\u00f4nico cromado com dupla sa\u00edda no melhor estilo “rodder mau” de ser.<\/p>\n A suspens\u00e3o escolhida na traseira \u00e9 tri-link com amortecedores Hot & Customs modelo coil over com molas cromadas, sendo que na dianteira \u00e9 de eixo r\u00edgido Ford 32 rebaixado com sistema four link. Para ajudar nas curvas, o diferencial traseiro foi importado de um modelo Cherokee V8. “N\u00f3s ainda colocamos um c\u00e2mbio Clark de quatro machas, freio a disco nas quatro rodas e distribuidor eletr\u00f4nico Unilite Mallory”, pontua Norberto.<\/p>\n J\u00e1 a est\u00e9tica do hot foi revigorada com as rodas Smooth cal\u00e7adas em pneus Mickey Thompsom. Onde fica localizado o tanque de inox com capacidade para 90 litros, Jorge e Norberto optaram por incluir uma mala de couro para cobrir a estrutura. “A \u00fanica coisa que falta concluir no projeto s\u00e3o os pinstripe que ficar\u00e3o a cargo do meu amigo Gabriel Alves Primo. No mais, o Tudor est\u00e1 me encantando a cada dia”, reflete Jorge. Do per\u00edodo nebuloso para dias mais ensolarados ao lado do Tudor, Jorge agora s\u00f3 aceita uma escurid\u00e3o: Black Night, o apelido de seu carro!<\/p>\n
\nFotos: Ricardo Kruppa<\/em><\/p>\n
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