Série “Mad Max” ressurgiu das cinzas com “Estrada da Fúria”; relembre os filmes e conheça os carrões da nova geração
Texto: Eduardo Torelli e Bruno Bocchini
Fotos: Mauricio Abraham/Warner Bros/Divulgação
Mad Max
A série “Mad Max” é um fenômeno indiscutível. Basta constatar o sucesso do mais recente filme da franquia (“Mad Max – Estrada da Fúria”), descrito pela “classuda” revista Forbes como “uma obra-prima do cinema de ação”. O que algumas pessoas não sabem é que esta criação do cineasta e produtor George Miller, que angariou fãs em todo o mundo e gerou várias imitações (“Crepúsculo de Aço”, “Waterworld – O Segredo das Águas” e “Cherry 2000” são apenas algumas delas), surgiu de forma bastante modesta.
A obra que deu origem à série (“Mad Max”, de 1979), dirigida por Miller e estrelada por um “tal” de Mel Gibson – na época, um ilustre desconhecido – era uma produção de baixo orçamento, feita na raça com parcos US$ 400 mil (um investimento nanico para um filme de ficção científica, considerando que “Star Wars – Uma Nova Esperança”, lançado dois anos antes, custara US$ 11,5 milhões). Mas “Mad Max” tinha dois trunfos importantes a seu favor: a originalidade e a ousadia, que se tornaram os cartões de visita da série, junto com os carrões e motos turbinadas que sempre roubam a cena nas aventuras do personagem.
Vingança
O primeiro “Mad Max” tinha uma história simples para contar: em uma Austrália do futuro próximo, a um passo do apocalipse e aterrorizada por gangues de motoqueiros punks, o policial Max Rockatansky (Gibson) faz o que pode para manter a lei e a ordem nas estradas, palco de atos de vandalismo, estupros e “rachas” mortais.
Max tem o apoio de alguns colegas da corporação (como o boa praça Jim “Goose”, interpretado por Steve Bisley) para cumprir essa missão suicida, mas a verdade é que o sistema legal está falido: ninguém consegue manter o “lixo errante” – punks como Toecutter (Hugh Keays-Byrne), Bubba Zanetti (Geoff Parry) e Johnny “O Garoto” Boyle (Tim Burns) – na cadeia, independentemente do número de prisões feitas. Arrumar encrenca com uma dessas gangues é como assinar a própria sentença de morte – e basicamente, é isto o que acontece com o herói, quando ele e Goose prendem “O Garoto” e este é inocentado das acusações que lhe são imputadas, por falta de testemunhas.
Em retaliação, a gangue de Toecutter vai atrás de Goose (que acaba em estado vegetativo) e da família de Max. A esposa e o filhinho do herói são massacrados pelos motociclistas em uma cena famosa e, descrente da justiça e do sistema, Max se “arma” com um Ford Falcon XB preto e vai para a estrada fazer justiça por conta própria. O resto do filme é pura catarse: um a um, os membros da quadrilha de Toecutter vão se tornando comida para os vermes no outback australiano. E dá-lhe sequências superelaboradas de motos colidindo com caminhões, despencando de pontes ou atropelando pessoas – todas elas feitas com dublês, já que, na época não existiam os efeitos digitais da atualidade.
Apocalipse, agora!
Apesar de baratinho, o filme se saiu bem nas bilheterias (durante um bom tempo, “Mad Max” figurou no célebre “Guiness Book”, o “Livro dos Recordes”, como a produção com melhor custo-benefício da história). Com os bolsos cheios de grana, os produtores decidiram dar continuidade à trama dois anos depois, realizando “Mad Max 2 – A Caçada Continua” (um filme mais caro e bem-acabado que o anterior, mas que mantinha o espírito do longa-metragem original). Gibson voltou ao papel do justiceiro Max – agora, sem qualquer vínculo com a polícia e transformado em um vingador errante. O forte da produção ainda eram as sequências automobilísticas, planejadas e encenadas com uma precisão assombrosa. Mas o pano de fundo de ficção científica foi ampliado em “A Caçada Continua”.
Para começar, o novo filme dava a impressão de que o apocalipse profetizado em “Mad Max” tinha chegado de vez: a trama se passa em panoramas desérticos, a gasolina se tornou mais valiosa que o dinheiro e as populações humanas se reduziram a pequenos clãs nômades. Os tipos esquisitos que pilham e saqueiam as estradas também se tornaram mais selvagens – alguns são figuras tão excêntricas que parecem saídas do encarte de um disco de rock ‘pauleira’. É nesse cenário bizarro que Max se associa a um grupo de pessoas decentes (coisa rara nesse futuro pessimista) e as ajuda a transportar um carregamento de gasolina pelo deserto, enfrentando o ataque das hordas bárbaras comandadas pelo ‘piradão’ Lorde Humungus (Kjell Nilsson).
Alguns consideram A Caçada Continua o melhor filme da série, superando até o longa-metragem original. Mas a verdade é que é difícil comparar os dois primeiros “Mad Max”. Eles não competem entre si – um é a extensão do outro e essa é a melhor forma de assisti-los. Enquanto o primeiro filme se concentrava em contar uma simples história de vingança, o segundo oferece um plano mais geral e revelador do mundo onde vivem esses personagens. E o que é mais importante: sem abrir mão do estilo que consagrou a obra original. As coisas sairiam um pouco dos trilhos na segunda continuação do filme de 1978, coestrelada pela pop star Tina Turner.
Morte e renascimento
Lançada em 1985, a terceira aventura de Max Rockatansky é a menos apreciada pelos fãs. Com o subtítulo “Além da Cúpula do Trovão”, o filme deixou de lado algumas convenções sagradas da série (talvez por buscar um público mais amplo que os aficionados por carros e motos e os apreciadores do bom e velho “cinema-pancadaria”). Tina Turner interpreta a governante de uma cidadela no deserto onde a principal diversão são as lutas que acontecem em uma arena com cara de “globo da morte”. Max acaba indo parar nessa cidade e é destacado para lutar na tal Cúpula do Trovão – mas, por poupar a vida de um oponente, é banido do local, sendo acolhido por um grupo de crianças que vivem no deserto.
Além do tom meio infantil e da violência dosada, o terceiro “Mad Max” cometeu um erro gravíssimo: quase não há sequências de perseguições automobilísticas no filme (exceto pelo final, onde há um corre-corre pelo deserto, que nem de longe oferece a truculência e o realismo dos longas anteriores). O produto ficou meio descaracterizado, embora a bilheteria tenha sido razoável e a música-tema (“We Don’t Need Another Hero”, cantada por Tina Turner) tenha frequentado as paradas de sucesso naquele ano. Infelizmente, o impacto de tantas “inovações” no DNA original da série foi negativo: depois da “Cúpula do Trovão”, a série caiu no esquecimento, ficando dormente até este ano, quando o quarto “Mad Max” (um projeto anunciado e cancelado inúmeras vezes durante os anos 1990) finalmente chegou às telas.
O que se pode esperar dos próximos filmes sobre Max (que certamente serão realizados, já que a nova produção foi um sucesso) ainda é uma incógnita. Deu para notar que aquele universo truculento dos primeiros longas não resistiu inteiramente à correção política, que se apoderou do cinema em anos recentes (o filme foi até acusado de ser “feminista”, já que dá muita relevância às personagens femininas!). Mas o cenário não é tão desolador, considerando que “Estrada da Fúria” é mais fiel ao espírito dos primeiros “Mad Max” do que, por exemplo, “A Cúpula do Trovão”. Tom Hardy também se provou um bom substituto para Mel Gibson e os efeitos digitais não são o único recurso que os realizadores têm à mão, como acontece na maioria dos filmes de ação recentes. E o que é mais importante: os carrões ainda estão lá; Max ainda está lá; e os loucos ainda dominam a estrada.
Velozes e furiosos?
Insanidade é a palavra que estimula Colin Gibson, o designer responsável por produzir os carros que movimentam a história de Max Rockatansky e demais personagens. E no quarto longa da franquia os carros voltaram com destaque e doses de emoção que nem mesmo os marca-passos mais modernos ousam aguentar. Ao longo da produção, foram criados mais de 150 modelos e grande parte deles participa para valer das cenas de ação. O interessante é que os carros tiveram pouco ou nenhum uso de efeitos de computação gráfica, justamente para deixar mais real os acidentes em alta velocidade.
Há um discreto resgate na essência dos automóveis utilizados nos demais filmes, como a volta do tradicional Interceptor V8 de Max. Apesar de ter sido destruído no segundo filme, o carro do protagonista ressurge com novas transformações e, ao mesmo tempo, mantém sua essência com a carroceria do Ford Falcon Cupê XB. Difícil é acreditar que, diante da história e fama, o Interceptor tenha perdido a atenção para outros carros insanos e curiosos como o grande caminhão War Rig, ou até mesmo os modelos hot Nux Car e Elvis.
Confira os protagonistas sobre rodas que ainda tiram suspiros de entusiastas e amantes de Mad Max. Em estradas furiosas os motores V8 gritam mais que o vilão Immortan Joe. Pode acreditar!
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