DeSoto S7 Coupé: Raridade inusitada!

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DeSoto escondido nos Estados Unidos é resgatado para ser personagem no Brasil; da estranha compra ao sucesso da restauração de um dos ícones extintos há mais de cinco décadas

Texto: Bruno Bocchini
Fotos: Bruno Bernardes e Ricardo Kruppa

DeSoto S7 Coupé

Você tem aquela máquina de escrever empoeirada ocupando espaço em casa e já não sabe mais o que fazer com ela. Seu vizinho, sabendo que você não domina tecnologia e, claro, não tem familiaridade com internet, decide criar um anúncio online de venda para sua Remington responsável pelos textos do passado. O problema é que seu vizinho decide fazer tudo isso sem comunicar você e quando o telefone toca a confusão está armada. Parece cena de comercial ou até mesmo um esquete, mas a história é real – adaptada, mas real e recheada de curiosidades.

Geraldo Magela Campos, 46 anos, empresário de Patos de Minas (MG), não quis ser datilógrafo e, muito menos, estava em busca de alguma rara Olivetti, Royal ou Smith Corona. Geraldo sempre preferiu outra máquina, maior e que não cabe em uma maleta. “Visitei os Estados Unidos quatro vezes procurando um modelo Willy Coupé 1940, essa era a máquina que eu queria. Mas não encontrei ninguém vendendo esse carro, foi quando achei o DeSoto S7 e fiquei encantado. Logo soube que essa versão do DeSoto era rara e então fui atrás”, explica.

A venda do exemplar DeSoto estava anunciada em um site de anúncios regionais (craiglist), mas ao ligar para o proprietário do modelo, Geraldo foi surpreendido. “Liguei para o telefone que estava no site e o Sr. George, proprietário do DeSoto, atendeu bravo e dizendo que não tinha anunciado o carro, que não conhecia site algum de vendas e muito menos usava a internet. Ele ficou muito assustado, mas por intermédio do meu sobrinho norte-americano conseguimos que ele nos recebesse em sua fazenda para conhecermos o carro”, conta.

Durante a visita, George e Geraldo descobriram que o anúncio teria sido feito pelo filho do vizinho da fazenda. “George teria dito ao rapaz que pretendia vender o carro, mas não esperava que ele fosse publicar o anúncio sem comunicá-lo. Desta forma, foi um achado inusitado. O anúncio foi publicado em um dia, eu vi o modelo no outro e comprei no terceiro dia na fazenda. Para minha surpresa o DeSoto foi do pai do George. Já estava guardado para mim”, brinca Geraldo.

Referências, cultura e enxaqueca

Antes de comprar o DeSoto, Geraldo já projetava a ideia de ter um hot rod. Ele é proprietário de um Ford Maverick Super Luxo 1974 e de uma picape Dodge 1940, mas almejava um veículo mais clássico e diferente. “Primeiro pesquisei e fui atrás do Norberto Jensen, da Hot&Customs, para me ajudar a desenvolver o projeto. Como moro no interior de Minas Gerais e não temos muitos projetos aqui, busquei conhecer outros profissionais e empresas que participaram do meu projeto, todos através da leitura e acompanhando a revista Hot Rods (pode parecer que estou querendo “puxar o saco” de vocês, mas acho importante comentar, pois eu não tinha referências de onde buscar os profissionais certos). Então encontrei todos e tirei muitas ideias da revista. Sou assinante e sempre comprei nas bancas nas minhas viagens, foi onde vi os projetos e entrevistas do Norberto, do Leonardo Castilho, projetos da Bravo Tapeçaria, e empresas que adaptam peças e acessórios. Foi um passo fundamental para chegar até o DeSoto”, garante.

Da aquisição inusitada do modelo ao processo burocrático para trazê-lo ao Brasil, Geraldo comenta sobre a ansiedade para ver o DeSoto a caminho da oficina. “Sem dúvida o momento que mais me marcou foi quando recebi uma foto do meu carro dentro do conteiner no porto brasileiro. O problema é que criaram dificuldades para que eu pudesse retirar o carro, mesmo com todos os impostos pagos. Tive que aguardar por quase quatro meses e cobraram mais estadias. Foram despesas que ficaram mais caras do que os impostos. Como fiz uma importação direta, sem terceiros, e não sabia como funcionava o porto, fiquei com muito medo de perder meu carro. Foi um susto, mas deu certo”, relembra Geraldo.

Letra por letra

O projeto estrutural do DeSoto foi comandado por Norberto Jensen e equipe da Hot&Customs, de São Paulo. Das etapas executadas pelos profissionais, como chassi, suspensões, mecânica completa, elétrica e montagem final, a execução mais trabalhosa, segundo Norberto, foi diante da funilaria e estética do modelo. “Essa foi a etapa mais demorada e trabalhosa, pois dela foi gerado o layout final do carro. A fabricação do chassi e montagem das suspensões também foram difíceis devido ao formato e apoio do chassi, sem contar a fase de como chegar à altura do veículo conforme o Geraldo queria”, aponta Norberto.

A receita estrutural do DeSoto recebeu o tradicional motor Chevy 350 Small Block, câmbio de cinco marchas – mesmo utilizado em modelos S10 e Blazer, freios a disco nas quatro rodas e diferencial Dana 44 com relação 3.15. A potência estimada pela GM norte-americana é de 370 cavalos. “Como tínhamos o chassi original do modelo, o processo de fabricação do chassi em nossa oficina foi trabalhoso e completamos o serviço com suspensão da Bergertec”, relata Norberto.

Por fora, o modelo ganhou pintura em duas cores (cinza e vermelho) combinando com detalhes cromados que invadem a parte frontal do DeSoto, puxadores das portas, retrovisores e para-choques frontal e traseiro. As rodas Billet de 10” na frente e 12” atrás harmonizaram a estética e, de quebra, deixaram a carroceria com mais evidência –  sendo protagonista do projeto.

Já no interior prevalecem os instrumentos Billet, tapeçaria e bancos de couro na cor bege, além do volante Billet e alavanca de câmbio com detalhes cromados. Há ainda uma tela sensível ao toque acoplada abaixo do painel central que comanda o sistema de som da cabine. “Para nós foi um projeto muito importante, pois sentimos o quanto o Geraldo se entregou neste carro, seu sonho de ter um modelo confiável para uso e não para ficar guardado na garagem. Além do que se trata de um modelo muito bonito e raro aqui no Brasil”, sugere Norberto.

No uso, sem medo!

Geraldo não tem o perfil de exibir o DeSoto apenas em ocasiões especiais. Para ele é como se todo dia a bordo do clássico valesse como um momento importante. E Norberto foi testemunha do primeiro grande teste pelo qual o carro passou. “No dia que finalizamos o projeto, Geraldo retirou o carro às 8h da manhã e saiu direto para sua cidade, rodando mais de 700 km. Isso nos deixou com um orgulho enorme. A ligação dele ao final do dia, avisando que estava chegando em casa, apesar de um fusível queimado e um pequeno vazamento de óleo de uma tampa de válvula, nos emocionou muito. O Geraldo é do tipo de pessoa que sempre acompanha o projeto e sempre soube o que queria. Ele merece de coração pela pessoa que é”, aponta Norberto.

De toda a trajetória, Geraldo pode tirar uma conclusão: ligar para Norberto teve mais doses de alegria do que telefonar para George, o ex-proprietário ranzinza do DeSoto. Uma ligação pode fazer toda diferença. Ah, se o DeSoto falasse…

FICHA TÉCNICA

DeSoto S7 Coupé

Mecânica/estrutura

Motor Chevy 350 Small Block, câmbio de cinco marchas, freios a disco nas quatro rodas e diferencial Dana 44 com relação 3.15; potência estimada em 370 cv; suspensão Bergertec

Parte interna

Instrumentos Billet, tapeçaria e bancos de couro na cor bege, volante Billet e alavanca de câmbio com detalhes cromados; tela sensível ao toque com leitor de CD

Parte externa

Rodas Billet de 10” na frente e 12” atrás, pneus Cooper Cobra, pintura em duas cores (cinza e vermelho) e detalhes cromados na parte frontal, puxadores das portas e para-choques traseiro e frontal.

Quem fez?

Pintura, acabamento e lanternagem – Andre Assis (Ditrasa) de Pato de Minas – www.ditrasa.com.br;

Tapeçaria – Bravo Tapeçaria – www.bravotapecaria.com.br;

Desenho do projeto: Leonardo Castilho – Cast Design;

Cromeação – Schnynder – www.schnyder.com.br;

Mecânica e estrutura – Norberto Jensen (Hot&Customs)

http://www.hotcustoms.com.br

VEJA TAMBÉM: Motores V8: Flathead, Hemi e Small Block.

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