Sempre me perguntei por que a maioria das pessoas não tem um “projeto do carro”. Uma planta de como gostaria que seu carro ficasse
Texto e fotos: Victor Rodder
Sempre ajudei meus amigos com a customização de seus carros e, depois que passei a escrever para Hot Rods, também comecei a receber pedidos de dicas e orientações sobre projetos. E recentemente resolvi i “institucionalizar” isso, criando uma pequena empresa de consultoria, assessoria e execução de projetos de customização e personalização automotiva.
Meu primeiro “cliente” encomendou um Ford 1949, e imediatamente passei a rascunhar as ideias. Mas uma coisa era fazer pequenos projetos para os amigos, ou dar um palpite ou outro no carro de outra pessoa. Outra bem diferente era apresentar isso para alguém que estava disposto a investir no projeto todo algo próximo dos US$ 50.000,00.
Mesmo tendo certa experiência com customização, conhecendo um pouco as linhas-mestras do old school custom, sabendo quanto rebaixar, o que remover, o que acrescentar, como combinar peça de outros carros, colocar tudo isso junto sempre é uma tarefa que exige dedicação. E visualizar é muito importante… Mas e para apresentar isso para outra pessoa?
Por isso, a primeira parceria que fechei para meu novo empreendimento foi com um dos mais renomados profissionais na arte da Kustomização Virtual – Dan Palatnik.
Muitos de vocês já devem conhecer seus trabalhos, mas posso apostar que nem tantos sabiam que Dan é brasileiro e que os carros de sua “Garagem Digital” não são de verdade, tamanha a perfeição das imagens. E é sobre ele que falaremos nesta e nas próximas edições, usando esse Ford 1949 como pano de fundo.
Custo e Benefício
Sempre me perguntei por que a maioria das pessoas não tem um “projeto do carro”. Uma planta de como gostaria que seu carro ficasse, pois grande parte de quem eu conheço vai fazendo seus carros e adaptando conforme a necessidade. E confesso: eu mesmo fiz isso vária vezes. Trocava a roda e esquecia das pinças de freio, da caixa de roda, dos para-lamas… E aí, uma coisa que era pra ser simples se estendia para todo o conjunto. E com quem eu conversava não era muito diferente. Sempre diziam: “tenho a ideia na cabeça”.
Ora, eu também sempre tive. Mas na hora de passar isso para o latoeiro, para o estofador, para o pintor… Ficava invariavelmente diferente.
Alguns amigos faziam miniaturas 1:18 com kits plásticos de montar para poder visualizar seus carros. Faziam verdadeiras maquetes dos carros. Mas isso, além de dar um trabalho monstro, era um talento que eu não tinha.
Por isso, há dois ou três anos, quando resolvi mudar radicalmente a cor de um dos meus carros, comecei a pesquisar quem poderia fazer uma simulação virtual para mim. E acabei recebendo uma dica de um amigo norte-americano sobre esse carioca mais do que talentoso!
Na época o custo do projeto digital ficou um pouco acima do que eu imaginava, mas aí pensei: pessoas pagam três vezes isso para fazer projetos de uma cozinha que custa três vezes menos! E foi aí que passamos a nos conhecer melhor. A mudança de cor daquele carro acabou ficando só no papel, mas percebi nos primeiros esboços que Dan me mandou que o serviço valia cada centavo. Afinal, simular antes de meter o maçarico, ou empatar um bom dinheiro nas rodas ou na tinta errada significa que teremos condições de fazer as coisas mais rápidas e mais em conta.
Dan Palatnik
Dan é carioca, nascido e criado no Rio de Janeiro. E desde sempre desenhando carros, segundo ele. Cursou dois anos de Engenharia Mecânica, depois dois anos de Programação Visual. Aí foi trabalhar em São Paulo e voltou ao Rio como ilustrador de publicidade. E foi no princípio dos anos 90 que começou a usar CG (Computação Gráfica), e em 2002 passou a se aventurar no 3D mais a sério. Os carros começaram timidamente, mas a coleção foi tomando corpo, primeiro com americanos dos anos 50, depois também dos anos 40, passando para os primeiros nacionais, esportivos italianos Mille Miglio, pequenos japoneses, europeus de 50/60, e aí foi abrindo o leque. E com seu trabalho navegando pela rede mundial de computadores, encomendas para simulação e visualização passaram a surgir em várias partes do mundo.
Desde então Dan já modelou quase duas centenas de carros, diversos rádios, alguns barcos e três aviões.
Seu trabalho às vezes pode parecer relativamente simples, mas vai muito além do mero “photoshop”. Dan cria do nada um complicado poliedro que imita em todas as suas curvas compostas o objeto real. E apesar do milagre da internet, que nos dispensa de ter uma biblioteca particular e um scanner poderoso, não é fácil encontrar imagens com perspectivas semelhantes às que são necessárias para fazer o “cut & paste”. A modelagem 3D é imensamente mais difícil e demorada.
Mas é preciso dizer que saber usar as ferramentas disponíveis em um programa de computador não é o suficiente. Para que cliente, projetista e executor possam conversar adequadamente e chegar a um resultado satisfatório, é preciso também dominar a cultura dos projetos automotivos históricos. Saber como e onde as curvas se encontram, as proporções certas etc. E isso Dan faz com maestria. A maior parte dos modeladores 3D só consegue criar em cima dos chamados “blueprints” (um tipo de supor te utilizado em desenho
técnico para projetos de arquitetura, engenharia ou design). Dan não acredita em blueprints. Ele é exigente, pois até os originais de fábrica são inexatos, valem apenas como instrução visual para os escultores do modelo em argila.
Para ele, o que vale é o resultado final. E isso só trabalhando com fotos e medidas reais.
Lógico que hoje, depois de muitos e muitos modelos feitos e refeitos, em mais de uma década de trabalho na área, Dan já tem a fórmula certa para alcançar seus objetivos. “Não há carro que eu não consiga ‘entender’ e daí modelar”, conta.
Dan modela em 1:1, e isso também é uma vantagem no seu trabalho, já que ele pode usar peças de um carro em outro, pois são todos da mesma escala. Ele vai marcando as modificações em polegadas ou milímetros e adaptando como se tivesse sob os dedos uma funilaria digital! “Esse é também um grande barato. Carros e rádios das décadas de 40 e 50 sempre foi minha paixão, mas não tinha nem dinheiro nem espaço para tê-los em casa. Por isso resolvi criá-los “no computador”, diz.