Qual é o câmbio ideal para seu hot? Depende do uso que você quer fazer dele…

Texto: Manoel G. M. Bandeira
Fotos: Divulgação

Câmbio

A maioria dos hots norte-americanos é construída com câmbios automáticos. Mas você já parou para pensar se os donos realmente gostam disso? Dirigir um hot rod com algo em torno de 1.000 quilos, equipado com um motorzão V8 que fornece torque de sobra, e um câmbio automático? Garanto que se você falasse isso para um rodder do final da década de 1940, ele certamente torceria o nariz.

Na verdade, os câmbios automáticos começaram a ser utilizados nas corridas de arrancada no final da década de 1950 e passaram a ser equipamento praticamente obrigatório nos dragsters justamente na década de 1960. Isso aconteceu devido à grande potência alcançada pelos motores, o que fez com que as engrenagens dos câmbios manuais simplesmente não aguentassem tanto torque. A opção foi adaptar os câmbios automáticos, que têm a característica de absorver um pouco do “tranco” do motor quando este despeja toda a sua potência.

Como funciona?

Hot-102_web-91Já explicamos em outros artigos como funciona um câmbio automático. Porém, apenas para que você tenha uma ideia do que acontece, vamos comparar um câmbio automático a uma série de embreagens acopladas, com discos que, pressionados uns contra os outros, se prendem e giram juntos. Se a potência, ou melhor, o torque despejado for muito grande, estes discos tendem a patinar um pouco, antes de grudarem uns nos outros. Esta pequena “patinada” absorve o excesso de torque evitando o tranco que faz com que as engrenagens se partam. Voltando aos hot rods: não foi somente a utilização dos câmbios automáticos nas corridas de arrancada que popularizou o uso deste tipo de transmissão nos hots americanos. O principal motivo foi a popularização dos câmbios automáticos em carros de passeio produzidos nos EUA a partir de 1955.

É verdade que, antes disso, já tínhamos vários carros oferecendo câmbios automáticos, mas estes não se prestavam a melhorar o desempenho, portanto eram simplesmente descartados pelos rodders da época.

Outro detalhe importante é que os câmbios automáticos passaram a sobrar nos desmanches, além de ser mais facilmente adaptáveis, pois o pedal da embreagem sempre ocupa uma boa parte do tempo destinado à adaptação. Se considerarmos também que passaram a existir várias oficinas especializadas em consertar e, principalmente, em melhorar o desempenho dos automáticos, e ainda a maior facilidade em adaptar o trambulador, tudo isto fez com que fosse praticamente obrigatório o uso dos câmbios automáticos nos hot rods americanos pós 1960.

E por aqui?

Hot-102_web-92Aqui no Brasil, porém, a história correu para outro lado. Os câmbios automáticos sempre foram destinados a carros de alto luxo e, consequentemente, de alto preço. Sempre tivemos poucas oficinas especializadas e, justamente por isso, a mão de obra para consertar um câmbio destes sempre foi cara e difícil. Alterar um câmbio automático original para receber um motor mais potente, então, até bem pouco tempo atrás era praticamente impossível em terras brasileiras. Quase ninguém detinha este conhecimento.

Felizmente, com a evolução da arrancada no Brasil, hoje temos vários mecânicos que detêm o know-how de envenenar os Powerglides (câmbio automático muito utilizado em arrancadas, fabricado pela Chevrolet), os C4 e C6 (câmbios automáticos da Ford), os Th 350 e 400 (câmbios mais moderno do que a Powerglide, também da GM), e os Torqueflit (câmbio automático da Chrysler). Porém, estes serviços ainda são muito caros e, geralmente, dependem da importação de peças ou kits de adaptação.

Mesmo com todas as dificuldades encontradas no Brasil, ainda assim vemos muitos hots rodando macio, sem que seus donos precisem tirar a mão do volante para passar as marchas. Porém, um questionamento é inevitável: será melhor dirigir um hot rod automático com todo o conforto e luxo, mesmo tendo que gastar uma boa quantia a mais na construção, ou será que o gostinho de sentir a potência do motor no pé direito, levando as marchas até onde se acha que deve, é mais gratificante?

Depende do gosto

O brasileiro que tem mais de 45 anos é, sem dúvida alguma, um motorista acostumado a trocar as marchas. A recente popularização dos câmbios automáticos também no Brasil irá, sem dúvida alguma, criar novos hábitos. Porém, quem sempre teve carros com câmbio mecânico realmente estranha a tocada de um automático.

Se você está em dúvida sobre o caminho a seguir, está relutante em montar seu hot com câmbio mecânico, acreditando que ele não será um hot rod de verdade se não tiver uma caixa automática, meu conselho é que procure ver o que utilizavam os hot rods clássicos, nos quais dificilmente irá encontrar um câmbio automático. Analise bem a utilização que você pretende dar ao seu hot.

O americano utiliza câmbio automático na grande maioria dos seus hots pelo mesmo motivo que utiliza também na maioria dos casos, um motor Chevrolet em um carro da Ford: pela facilidade e pelo custo. De qualquer forma, seu pensamento principal deve ser focado na utilização que você pretende do seu hot. Às vezes um motor 4 cilindros com câmbio mecânico de 4 ou 5 marchas atende melhor às suas necessidades do que um V8 big block. Heresia? Pode até ser, mas é bem melhor ter um hot rod nas ruas rodando e dando prazer ao seu dono, do que uma linda escultura imóvel na garagem servindo apenas para mostrar aos amigos.

1 COMENTÁRIO

  1. Recentemente comprei um hot rod chevy 1939 com um motor chevrolet 4.1 com cambio automatico. No inicio estranhei um pouco mas logo me acostumei e achei muito pratico dirigir um hot com seus 77 anos nas costas com praticidade e conforto de não ter que trocar tantas vezes as marchas principalmente na cidade. Fica aí a dica aos amantes destes autos incriveis.

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