Conheça a história da fábrica de carros montada por dois grandes executivos norte-americanos
Texto: Aurélio Backo
Fotos: Divulgação
Kaiser-Frazer
Na edição anterior falamos um pouco da Studebaker, a primeira montadora norte-americana a lançar um automóvel novo após a Segunda Guerra Mundial. Nesta edição abordaremos a segunda montadora a fazer o mesmo: a Kaiser-Frazer! Em junho de 1946, apenas dois meses após a Studebaker, a Kaiser-Frazer lançou também um automóvel novo e inovador, anos à frente das grandes montadoras.
Diferentemente da Studebaker, que foi criada em 1852, a Kaiser-Frazer era uma empresa nova, fundada em 1945. Com o final da guerra, a economia americana entrava em um período de grande crescimento e oportunidades. Um ótimo momento para investir numa nova montadora de automóveis.
Os fundadores
Henry John Kaiser nasceu em 1882 e fez fortuna com empresas de construção de estradas e grandes represas. Em dezembro de 1941, os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial, após o ataque japonês a Pearl Harbor, Havaí. Com os Estados Unidos em guerra, Kaiser passou a se dedicar intensamente a uma das suas atividades: a fabricação de navios. Nesse período, sua fábrica criou técnicas inovadoras de construção com ganhos exponenciais de produtividade. Enormes equipes chegaram a montar um navio militar de 10.500 toneladas em um tempo recorde de quatro dias e 15 horas.
Joseph Washington Frazer nasceu em 1892 no estado norte-americano do Tennessee. Seu primeiro emprego foi como auxiliar de mecânico na concessionária Packard de seu irmão. Logo percebeu que seu forte era vender carros. Nos anos que se seguiram, Frazer construiu uma sólida carreira como executivo na indústria automotiva.Trabalhou na Saxon Motor Car Company, General Motors, Chrysler e Willys-Overland. Em 1944, Frazer se tornaria presidente da Graham-Paige Motors Corporation, uma empresa que não produzia carros desde o final de 1940. A empresa se mantinha ativa produzindo artigos militares para o esforço de guerra. Com o final da guerra, Frazer pretendia retomar a produção de carros, e o fez em parceria com Kaiser.
Uma nova fábrica e novos carros
Henry J. Kaiser e Joseph W. Frazer fundaram sua montadora em julho de 1945, a Kaiser-Frazer Corporation.
O primeiro automóvel da companhia foi lançado em junho de 1946 e batizado “Frazer”. Em agosto era lançado o segundo modelo, o “Kaiser”. O Frazer e o Kaiser se diferiam apenas nos detalhes, pois compartilhavam uma mesma carroceria. Mas essa não era uma carroceria qualquer. Seu estilo estava à frente do seu tempo. Duas características que se sobressaiam: as laterais “lisas” e o porta-malas longo.
O estilo dos carros da concorrência, como os Ford e Chevrolet, utilizavam os para-lamas destacados da carroceria. Nos novos Kaiser e Frazer, os para-lamas eram totalmente integrados com a carroceria. A vantagem dessa configuração era um habitáculo mais largo para os passageiros. Além disso, os assentos foram deslocados mais para a frente do carro, aumentando o conforto dos passageiros do banco de trás. No estilo do pré-guerra, o banco de trás ficava muito próximo ao eixo traseiro e sujeito a todas as irregularidades do piso. Outra vantagem desse arranjo era que o porta-malas podia ser mais longo e com maior capacidade. O novo Studebaker 1947, lançado alguns meses antes, apresentava todas estas novidades, mas não tinha a lateral toda “lisa” como o Kaiser e o Frazer. No Studebaker os para-lamas traseiros ainda tinham um pequeno ressalto.
Frazer X Kaiser
Para competirem numa faixa superior, os modelos Frazer apresentavam detalhes e acabamentos de melhor padrão em relação ao Kaiser. E custavam de 100 a 300 dólares a mais.
A frente do Frazer 1947 adotava uma grade com elementos horizontais e o para-choque apresentava várias nervuras. O capô era adornado com o brasão da marca e na sua base ficavam a palavra “Frazer”. Já o Kaiser usava uma grade com elementos tanto na vertical como na horizontal e o para-choque era de lâmina lisa. O capô era adornado com o brasão da marca e na sua base havia um emblema com o nome “Kaiser”. Na parte posterior, os dois carros só se distinguiam pelo emblema com o nome do respectivo modelo e para-choques diferentes. Ambos utilizavam as mesmas lanternas, pequenas e em formato retangular. A placa ficava fixada na tampa do porta-malas num rebaixo estampado.
O Frazer era vendido em duas versões: a básica, Standard, e a mais luxuosa, Manhattan. A versão Manhattan apresentava interior com materiais mais sofisticados e um volante especial. Externamente a Manhattan vinha com quatro picaretas nos para-choques, contra duas no modelo básico. Além disso, havia frisos cromados ao redor dos vidros das portas e na caixa de ar abaixo das portas. E as rodas eram equipadas com supercalotas.
O Kaiser, por sua vez, era ofertado nas versões Special e Custom. A Custom, mais luxuosa, apresentava vários detalhes diferenciados de acabamento no interior. Externamente era equipada com uma moldura cromada no para-brisa, friso nas caixas de ar abaixo das portas e emblemas “Custom” nos para lamas-dianteiros. Os para- choques portavam quatro picaretas e as rodas eram equipadas com sobrearos cromados.
Mecanicamente, todos os Kaiser-Frazer eram equipados com um pacato motor de 6 cilindros de 3,7 litros e 100 HP. Esse motor era fornecido pela Continental Motors Company. Essa empresa, fundada em 1905, fornecia motores para carros, tratores e equipamentos estacionários. Por um tempo a Continental também forneceu motores para a Dodge.
Vendas e a Concorrência
Os Kaiser-Frazer foram lançados quando o mercado americano comprava qualquer coisa que tivesse quatro rodas. E nesse mercado eminentemente comprador, os K-F apresentavam bons atrativos: estilo inovador e moderno, interior espaçoso e confortável e porta-malas com boa capacidade. E, mesmo com um preço não muito atrativo, os Kaiser e Frazer de 1947 foram bem nas vendas: 139.249 unidades (70.474 e 68.775, respectivamente).
Com o modelo 1948, basicamente o mesmo de 1947, e um mercado ainda ansioso por carros novos, a K-F fechou com um total semelhante ao do ano anterior: 139.922 unidades.
Mas a sorte da K-F mudaria com os modelos de 1949. Para 1949, todas as três grandes montadoras abandonaram o estilo do pré- guerra e passaram a oferecer também nas suas linhas básicas (Chevrolet, Ford e Plymouth) a nova tendência de carroceria com para-lamas integrados. E agora o mercado já não tinha mais um perfil “comprador”, mas sim um perfil “vendedor”. E o preço dos K-F não ajudavam. Um Kaiser 1949 era vendido por 2.195 dólares. Muito caro, se comparado com os 1.539 dólares que custava um Chevrolet, ou os 1.861 dólares que custava um luxuoso Buick. Esses fatores resultaram em vendas de Kaiser e Frazer no período 1949-1950 de apenas 120.098 unidades. Em comparação, a Chevrolet produziu dos modelos 1949 e 1950 um total de 2.409.135 unidades!
O Fim
Na década de 1950, a concorrência entre as grandes montadoras era muito forte (General Motors, Ford e Chrysler). E sobreviver num ambiente tão feroz não era nada fácil para as pequenas montadoras, como a K-F.
O Frazer foi o primeiro a sucumbir. Seu modelo 1951 seria o último. Já o Kaiser 1951 ganhou um fôlego extra com a adoção de uma carroceria completamente nova. Mas, em 1955, sua produção seria também encerrada. Em 1954, a Kaiser havia comprado a Willys-Overland e, com o fim da produção do Kaiser, a empresa passa a produzir apenas o Jeep da Willys-Overland.
O Kaiser ressuscitaria em 1958. O maquinário do automóvel Kaiser foi transferido para a Argentina e foi produzido até 1962 com o nome Carabela…
VEJA TAMBÉM: Ford F1 1951: Pérola negra.
