História: Chevrolet 1934 Phaeton do “Alemão Afonso”

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Da série “Desbravadores do Hot Rodding Nacional”: outro hot nacional pioneiro, o Chevrolet Standard 1934, de Afonso Eberahr Ebbers, montado em Curitiba no começo da década de 1960

Texto: Aurélio Backo
Fotos: Divulgação

“Que estouro Que beleza de carrinho”

E fui me acostumando

E do carango fui gostando

E o Calhambeque, bi-bi

Quero conservar o Calhambeque

Bi Bidhu! Bidhubidhu Bidubi!

“O Calhambeque” (sucesso de Roberto Carlos em 1964)

Na sua última versão o Chevy tinha freios a disco e eixo traseiro de Dodge, interior preto e volante Walrod

O Chevrolet 1934 era um carro com poucos anos de uso quando foi comprado pelo pai de Afonso para uso “normal” – e desde então nunca mais saiu da família. Era um conversível com quatro portas. No jargão técnico, um “Phaeton”. Deste modelo foram produzidas nos Estados Unidos apenas 234 unidades – um modelo raro, já que a produção total da Chevrolet deste ano foi de 551.371 veículos. A sua carroceria vinha com a estrutura interna totalmente feita em madeira e sobre esta estrutura eram afixadas as chapas de metal – uma característica dos automóveis Chevrolet que perdurou até 1936. Mecanicamente, o carro era equipado de fábrica com o bom e confiável motor seis cilindros em linha, de 3 litros e 60 HP.

O modelo “Standard” era equipado com suspensão através de quatro feixes de mola (a versão “Master”, mais cara, estreava naquele ano uma suspensão dianteira independente).

Afonso, lá pelos idos de 1960, resolveu atualizar o velho Chevrolet. Como era mecânico, a troca do motor foi feita em casa mesmo. Seria fácil instalar um seis cilindros novo e mais potente, mas Afonso não era de pegar o caminho mais fácil. Escolheu um motor Chevrolet V8 e transformou o carro num legítimo hot rod. A carroceria precisaria ficar à altura do motor V8. A um latoeiro caprichoso foi dada a incumbência de substituir a madeira da estrutura por partes em metal. O serviço ia de vento em popa quando o latoeiro resolveu se mudar para Blumenau, Santa Catarina… Afonso decidiu levar o carro para lá, pois faltava menos da metade para a finalização do serviço. Várias viagens a Blumenau e dinheiro trocado de mão e o serviço não saía… Resultado: precisou buscar o carro e arranjar outro profissional para finalizar o serviço em Curitiba mesmo (quem lida com carros antigos sabe o quanto isso é comum…).

Em 1964 o carro já estava pronto e sendo usado no dia a dia quando Afonso, com pouco mais de 30 anos, resolveu fazer uma viagem até o Nordeste. Junto foram seus amigos Bruno Weiss de Castilho e Eduardo Werner Max Schrappe. Os amigos a bordo do Chevrolet passearam por Copacabana, Ipanema e também pela Praia da Boa Viagem, Recife! O único contratempo com o carro ocorreu por causa de uma enorme falha no asfalto, na viagem de retorno pelo interior de Minas Gerais. Com o impacto, o eixo dianteiro se partiu ao meio.

Era final de tarde de um sábado e, mesmo com o eixo quebrado, o trio conseguiu chegar à cidade mais próxima. Em pleno domingo puderam comprovar a hospitalidade mineira e acharam três irmãos serralheiros que retiraram o eixo, o desentortaram e o soldaram.

Fizeram um serviço de primeira e cobraram um preço camarada dos paranaenses, que já estavam com o dinheiro curto.

Quando chegaram a Curitiba, o Bruno teve que deixar o relógio de garantia por alguns litros de gasolina para poderem chegar em casa…

Afonso e Bruno dirigiam este Gordini preparado por Afonso que competiu em Caçador (SC).

Na pista

Mas o Chevrolet não viu só praia e sol. Afonso gostava de competições e com ele participou de várias provas pesadas. A mais famosa foi o II Grande Prêmio do Paraná, em 18 de dezembro de 1966. Esta prova era comemorativa da inauguração da estrada entre Curitiba e Londrina, no interior do Paraná. O Chevrolet foi bem nos 401 km de ida, mas no trajeto de volta  fundiu o motor e não conseguiu finalizar a prova. O alemão Afonso era um autêntico hot rodder: tinha um calhambeque com motor V8, competia forte com seu carro e outros modelos e ainda preparava carros para competição de clientes!

Infelizmente, em 2005, o Afonso nos deixou. Seu Chevrolet, que por tantos anos o acompanhou, agora está parado na garagem de sempre, mas sob os cuidados do seu filho, o Ari.

Ari: Gostaríamos de ver o bravo Chevy rodando novamente pelas ruas!

*Agradeço a colaboração de Ari Moro, Bruno W. Castilho e Ari Heidrich Ebbers

VEJA TAMBÉM: Ford 1929 Phaeton: Fazendo seu próprio carro.

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