Texto: Aurélio Backo
Com a frente inspirada em um avião, a Studebaker criou, com seus modelos 1950 e 1951, um dos ícones que marcaram os anos cinquenta, o Studebaker “nariz de bala”
A Studebaker iniciou suas atividades em 1852, como uma pequena ferraria aberta pelos irmãos Henry e Clement Studebaker. Muito trabalho depois, e com a ajuda dos irmãos Jonh, Peter e Jacob, a empresa se tornaria a maior fabricante de veículos de tração animal em solo norte-americano. Em 1902, diversificando sua produção, a empresa fabricou seu primeiro automóvel, um modelo elétrico. Seu primeiro modelo a gasolina foi lançado dois anos depois. E após pouco mais de dez anos, a produção da Studebaker só era menor do que a produção da Ford.
Studebaker na Década de Quarenta
Os Estados Unidos da América entraram na Segunda Grande Guerra Mundial no final de 1941. Em consequência, o governo norte-americano determinou o encerramento da produção de veículos civis em 1942. Nesse período, a Studebaker e as demais montadoras obtiveram bons contratos com o governo, produzindo para o esforço de guerra. A Studebaker passou a produzir caminhões militares, motores para aviões e veículos anfíbios.
A produção de veículos civis foi retomada apenas em 1945, com o fim da guerra. Em geral, as montadoras retomaram os mesmos modelos de 1942, apenas com pequenas alterações. As grandes montadoras, como a Chevrolet e a Ford, mantiveram essa estratégia até 1948. A Studebaker, por seu lado, se adiantou e lançou um modelo completamente novo, já em maio de 1946. Como montadora independente, o desenvolvimento de seus automóveis era feito por empresas terceirizadas, que, mesmo no período da guerra, puderam trabalhar no projeto de um novo carro. Já as grandes montadoras tinham departamentos próprios de desenvolvimento, que no período do conflito se dedicavam quase que exclusivamente ao esforço de guerra.
Studebaker Inovador
O Studebaker 1947, lançado em maio de 1946, era um modelo com estilo muito inovador. Diferente dos modelos de antes da guerra, o novo estilo eliminava os para-lamas destacados. Com isso, a carroceria ficava mais larga e com mais espaço para motorista e passageiros. O motor também foi posicionado mais à frente e os passageiros do banco de trás puderam ficar mais adiante, e não mais sacolejando sobre o eixo traseiro.
A Chevrolet e a Ford adotaram esse novo padrão mais confortável apenas nos seus modelos de 1949. Como saiu na frente, a Studebaker pôde aproveitar o mesmo projeto básico por vários anos (até 1952…).
Nariz de Bala
Para o modelo de 1950, a Studebaker provou que sempre era possível fazer melhor. Utilizando o mesmo pacote de 1947, uma nova e vibrante frente foi desenhada, o que transformou o carro em um modelo completamente novo e muito exuberante.
Inspirado no desenho de um avião, o carro ganhou um novo capô em formato pontudo. E, na ponta do capô, foi aplicado um adorno em forma de bala (ou de ponta de hélice…). Os dois para- lamas dianteiros, combinando com o capô, ganharam um formato projetado para frente. O conjunto dianteiro lembrava um avião. Na época, lojas vendiam um enfeite para colocar na ponta do adorno central: uma pequena hélice que girava com o carro em movimento.
O novo modelo, apesar de exótico, agradou, e muito, o público, que encheu os show rooms dos revendedores da marca para ver o lançamento do novo carro em agosto de 1949. Mesmo parado, todo o desenho do carro inspirava movimento e velocidade. O modelo fez mais sucesso que o de 1947, na época um carro que era totalmente novo e inédito. Várias carrocerias, de duas ou quatro portas, coupes e conversíveis, eram ofertadas na linha de 1950.
Uma em especial valorizava ainda mais a frente de “avião” do carro: a Starlight Coupé. Nesse modelo de duas portas, o vidro traseiro era dividido em quatro segmentos que contornava o habitáculo do carro, quase uma carlinga de uma aeronave.
Mecanicamente o carro não inspirava velocidade. Os dois motores disponíveis eram modelos de seis cilindros com válvulas nas laterais (cabeçote chato com velas no topo): 2,8 litros com 80 HP e 4,0 litros com 100 HP.
Com 343.164 unidades produzidas, 1950 foi o melhor ano de toda a história da marca. Tamanho sucesso não poderia deixar de ganhar uma continuidade. O modelo de 1951 continuou com o motivo aeronáutico, mas com uma ótima surpresa sob o capô.
1951
As mudanças de estilo para o novo modelo 1951 foram pequenas. Na frente estavam as mais aparentes. A ponta da “bala” ficou um pouco menor, com um anel cromado de acabamento externo de menor diâmetro. E abaixo do capô foi instalada uma nova grade bipartida envolvendo o adorno central.
Muito mais interessante era a nova opção de motorização: um novo e sensacional motor V8. Com 3,8 litros e 120 HP, adotava válvulas na cabeça, muito mais eficiente que os motores da marca de seis cilindros com válvulas na lateral. Com esse motor, a Studebaker saía três anos à frente da Ford e quatro à frente da Chevrolet, oferecendo um motor muito moderno em um carro de baixo preço. Com a nova unidade propulsora, um Studebaker podia chegar a 160 km/h e acelerar até 96 km/h em poucos 12,8 segundos. E, em provas de economia num percurso de 1.349 km, atingiu uma excelente marca de 11,76 km/l. Do modelo 1951, um total de 268.565 unidades foram produzidas.
Para 1952, ano em que a montadora completava cem anos, o Studebaker perdeu a frente de avião em favor de um estilo convencional e bem semelhante às demais montadoras.
Um Ícone
Com seu “nariz de bala”, a Studebaker criou com seus modelos de 1950 e 1951 um dos símbolos dos excessos da cultura automobilística americana. Uma época brilhante em que era possível identificar o modelo e o ano de um carro a quase meia milha de distância!
A Studebaker encerraria a produção de veículos com os modelos de 1966. O retorno financeiro com a produção de carros já não era tão significativo, em comparação com as demais atividades da empresa.