Empresário de Atibaia compra picape Dodge 1951 totalmente desmontada e encara o desafio de fazê-la rodar novamente
Texto: Flávio Faria
Fotos: Ricardo Kruppa
Picape Dodge 1951
Montar um carro antigo pode, muitas vezes, ser comparado a armar um quebra-cabeça. E montar um hot rod é ainda mais complicado, pois as peças a ser encaixadas, normalmente, não foram produzidas para o carro em questão. E conseguir adaptar e fazer tudo funcionar a contento é sempre um grande desafio. Acostumado a desafios, o empresário Armando Mantovani Filho, de 61 anos, tem uma verdadeira coleção de hots na sua casa em Atibaia, interior de São Paulo. Sua primeira paixão foi um Jeep Willys 1964, que recebeu uma mecânica V8.
Aliás, o empresário é um verdadeiro aficionado por “oito canecos”. “Para mim, hot rods tem de ter motorização V8, essa é uma característica comum a todos os meus carros”, conta. A história desta picape Dodge 1951 é muito especial. O antigo dono já tinha feito toda a parte de funilaria e pintura, mas deixou a carroceria totalmente desmontada, envolvida em plástico bolha.
Depois que ele sofreu um acidente, a picape acabou ficando guardada, desmontada, por oito anos na oficina. Quando soube da existência da caminhonete, Armando decidiu comprar este enorme quebra-cabeça e fazê-lo voltar à vida novamente. “Confesso que fiquei em dúvida se conseguiríamos montar. Fiquei apavorado com a quantidade de peças. Chassi, paralamas, portas, tudo desmontado. Não dava nem para saber se faltava alguma parte”, comenta o proprietário. Para ter um “norte” na montagem, o empresário descobriu uma picape do mesmo ano e modelo da sua, próxima da sua casa. A partir de então começou a fazer visitas frequentes à garagem do vizinho para ver como proceder a montagem da sua. “Conforme o trabalho foi sendo feito, descobrimos que faltavam muitas peças, principalmente da parte mecânica.
Outras, como o câmbio e o diferencial, vieram junto com o carro, mas a gente não sabia em que estado elas estavam”, conta. Apesar de ter sido um trabalho complexo, a restauração e a adaptação foram realizadas com relativa rapidez. Em um ano e meio a picape já estava rodando, como está nas fotos exibidas nesta reportagem.
Esportiva e clássica das picapes da década de 1950, a Dodge é a que tem o visual mais “conservador” e é também um dos modelos mais raros nas ruas brasileiras. Apesar de não estar em mau estado, sua pintura foi refeita. As rodas são de 15”, cromadas, e serviram para dar um ar mais esportivo à picape, montadas em pneus Hankook nas medidas 225/60 na dianteira e 275/60 na traseira.
A caçamba recebeu revestimento em ipê, com frisos cromados entre as tábuas. Os para-lamas traseiros precisaram ser alargados para que coubessem as novas rodas. O trabalho foi feito diretamente na chapa, diferentemente de alguns rodders, que preferem trocar a peça inteira por outra mais larga em fibra. Com para-lamas mais largos, foi necessário também fazer estribos mais largos na traseira. A frente também foi modificada, mas o quadro inteiro foi aumentado, para não precisar mexer somente nos para-lamas. Como manda a cartilha dos hot rods, Armando teve de ser criativo quando não conseguiu encontrar a grade dianteira. “Criamos uma peça diferente da original e mandamos cromar”. O resultado, como se vê, ficou excelente.
Mais conforto
Por dentro, a picape recebeu tudo do bom e do melhor em itens de conforto. Os bancos originais deram lugar a modelos novos, da picape S10, e foram revestidos em couro. O assoalho recebeu novos carpetes. Os instrumentos originais puderam ser restaurados, mas tiveram de ser retrabalhados para funcionar com a nova parte elétrica do carro, que antes era 6V e passou para as modernas baterias de 12V. O volante é da Lenker, modelo já conhecido dos apaixonados por picapes hot.
V8, claro!
Por baixo do capô da Dodge está um motor Ford. Mas a “heresia”, sob o ponto de vista dos dodgeiros mais puristas, é justificada por se tratar de um 302 V8, um dos propulsores mais tradicionais do mundo dos hots. O conjunto mecânico veio junto com as peças adquiridas por Armando. Mas, segundo ele, muita coisa estava faltando. “Estava tudo desmontado.
Depois que montamos o motor, ficaram faltando muitos componentes, como alternador, motor de arranque e carburador. Não tinha nada”, ri o proprietário. Que também teve que restaurar o câmbio, diferencial, caixa de direção e bomba hidráulica. Enfim, o trabalho nesta parte foi árduo, mas o resultado compensou. A alimentação do motor é feita por um carburador quadrijet da Holley, com filtro de ar da mesma marca. Na parte estética, o propulsor recebeu tampas de válvula da Summit Racing. Na parte elétrica, o empresário instalou um distribuidor Mallory.
O radiador original, que era muito grande, deu lugar a um modelo original do Mustang, que coube como uma luva no cofre ligeiramente apertado da picape. O tanque de combustível, que originalmente ficava sob o painel da cabine, teve de ser feito especialmente para o projeto, em inox, e alocado sob a caçamba. O câmbio é automático, modelo C4. Ele veio originalmente com a picape, mas foi aberto e revisado.
A suspensão dianteira é do Ford Galaxie. Na traseira ela foi embutida, com molas helicoidais. Segundo Armando, este conjunto garante uma boa estabilidade, algo necessário com um motor de grande torque como o 302, que rende cerca de 220cv de potência. Depois de tanto trabalho, Armando agora trata a sua Dodge com um carinho especial. O carro sai de casa apenas nos fins de semana e com tempo bom. “Uso mais para ir a eventos e exposições e fico sempre do lado para ninguém ficar colocando a mão”, conta o zeloso proprietário. Agora apaixonado por picapes, o empresário já tem em vista qual será o próximo projeto: “uma Ford F-1 1951”, conta.
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