Chevrolet 1934 : Um ”hot rod” pioneiro das Minas Gerais!

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Foto: (Divulgação)

Texto: Aurélio Backo

O Chevrolet 1934 do Davis

O hot rodding no Brasil tomou corpo no começo da década de 1990, com polos mais significativos em Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Dessa época, temos o belo Chevrolet 1934 montado em Belo Horizonte por Davis Jose Maia, mineiro de Jaboticatubas. Davis comprou o Chevrolet no começo da década de 1980, simplesmente por causa do motor e das rodas. Ele estava montando outro hot rod, um Chevrolet Coupe 1938, e nesse usou o motor Chevrolet 250, de seis cilindros em linha, e o jogo de rodas “gaúchas” que vieram com o 34.

Quatro portas, não!

O Chevrolet 1934, sem motor e rodas, foi deixado de lado. Pouco mais de um ano se passou e Davis resolveu que esse carro seria seu próximo projeto. O estado geral da carroceria era bom, exceto pelos para-lamas e estribos. E faltavam os para-choques e lanternas. Por outro lado, o carro veio com itens que Davis não gostava: portas traseiras. Na época, a inspiração para nossos rodders eram as revistas norte-americanas (não havia internet) e 99,99% dos modelos que apareciam nessas revistas tinham apenas duas portas. Os carros de quatro portas eram associados a carros de família ou carros de trabalho, como os táxis.

Como o objetivo era fazer um hot rod igual aos das revistas gringas, as portas traseiras tinham de desaparecer. Mas só soldar as portas traseiras no lugar não era suficiente. Era necessário também aumentar as dianteiras, ou o carro perderia a proporção. Na época, Davis não conseguiu achar um modelo de duas portas para tirar as medidas, e o quanto seria aumentado da porta foi feito no “sentimento”.

Essa alteração seria naturalmente trabalhosa, mas nesse carro havia mais um obstáculo: estruturas de madeira. Até 1936, a estrutura das carrocerias da Chevrolet era feita de madeira, e sobre essa as chapas de metal eram aplicadas. Na alteração, as estruturas de madeira foram mantidas e algumas partes foram feitas com metal. Ajudou bastante o fato de Davis ser dono de uma oficina de pintura e lanternagem (ou lataria, ou funilaria, dependendo de em qual parte do Brasil você vive…). Davis pessoalmente recuperou os para-lamas e os estribos, as partes mais deterioradas do carro.

E qual motor usar no carro? Originalmente um Chevrolet 1934 vinha de fábrica com um motor de seis cilindros em linha. O mais fácil era instalar um motor 6 cilindros de um Opala 250. Mas, na época, comprar um Dodge inteiro com motor V8 era uma opção mais viável. Além de barato, do Dodge você poderia usar toda a robusta parte mecânica. E foi a opção escolhida por Davis, que comprou um Dodge Gran Sedan azul com teto de vinil para desmanchar (hoje em dia um Dodge vale mais do que um Opala…).

Na adaptação mecânica, Davis decidiu cortar a parte dianteira do chassi original do Chevrolet e enxertar as longarinas dianteiras do Dodge. Dessa maneira foi possível utilizar toda a suspensão dianteira do Dodge e sua caixa de direção. Essa prática era comum na época, mas hoje em dia passou a ser evitada, pois a manutenção do chassi original valoriza o carro. Na suspensão traseira foram usados os feixes de mola do Dodge.

Caídos do céu

Davis também contou com a sorte para montar o carro. Certa vez estava na frente da oficina conversando com uns amigos e apareceu um sujeito contando que já tinha tido um carro parecido e coisa e tal. Dias depois o mesmo sujeito apareceu e lhe deu de presente um raro para choque traseiro original! Caiu do céu também um par de faróis dianteiros, presente de um amigo colecionador. Esses faróis não eram iguais aos originais, mas o seu diâmetro permitiu a instalação de um conjunto óptico moderno de um caminhão Volvo. Como os outros itens que faltavam, o para-choque dianteiro e as lanternas traseiras, não caíam do céu, Davis decidiu procurá-los e os comprou…

E chegou a hora da pintura. Como inspiração, foi utilizado um hot rod bicolor de uma revista americana. As cores escolhidas foram vermelho e branco, ambos perolizados. O resultado ficou perfeito. Para fazer um carro bicolor não basta escolher duas cores bonitas, as duas cores também devem combinar entre si. A separação das duas cores foi feita com um grafismo, bem ao estilo dos hot rods americanos da década de 1980. O compartimento do motor foi tratado com a mesma atenção do acabamento externo. A corta fogo lisa, polida e pintada na mesma cor do carro foi um desafio especial na construção do carro. Para tanto Davis teve um grande trabalho instalando o servo freio e a bateria abaixo do assoalho.

Para finalizar o carro, o interior recebeu bancos individuais de um VW Apolo. Externamente o carro foi calçado com aros de Puma GTB S2 feitos em liga leve de 14”.

Davis estreou o carro em 1993, no encontro de Araxá. Com um acabamento impecável e de bom gosto, o carro fez sucesso! Recompensa merecida por anos de trabalho duro nas horas vagas.

Davis aproveitou o carro em muitos eventos e viagens por Minas Gerais. Há uns 15 anos o modelo foi comprado por um amigo de Davis, de São Paulo. Tempos depois o carro voltou para Minas Gerais, mas o último comprador infelizmente faleceu e o hot rod do Davis, no momento, está em “hibernação”…

 

 

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