CONHEÇA A HISTÓRIA DO FORD ANGLIA

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Foto: (Divulgação)

Texto: Aurélio Backo

O veículo era considerado o patinho feio inglês, mas virou uma águia em solo americano!

Em 1939, a Ford lançou na sua unidade inglesa um novo modelo econômico, o pequeno e espartano Anglia. Com 3,86 metros de comprimento e um motor de 4 cilindros de 0,9 litro e 23 HP, o carro tinha espaço no limite para quatro ocupantes. Nesse mesmo ano, foi deflagrada a sombria Segunda Grande Guerra. A produção do modelo foi suspensa em 1942, retornando apenas no meio de 1945 com o fim do conflito.

Com o fim da guerra, o pequeno Anglia e sua versão furgão, chamada Thames, passaram  a ser exportados para os Estados Unidos a partir de 1948 (a Grã-Bretanha precisava exportar o que pudesse para pagar as pesadas contas de guerra).

A fábrica inglesa esperava vender 12.000 unidades no primeiro ano de exportação para a América do Norte. Mas, para o período, apenas 3.500 veículos atravessaram o Oceano Atlântico. O motivo era fácil de perceber. O pequeno carro inglês era basicamente uma versão acanhada e em escala menor de um carro  americano da década  de 1930. Tinha  pouco espaço, freios de acionamento mecânico e motor pequeno (a versão americana usava motor de 1,2 litro e 30 HP). Mesmo assim, até 1953, foram exportadas 25.000 unidades. Na Inglaterra, o modelo a partir de 1953 passou a ser chamado de Popular (ou Pop) e permaneceu em produção até 1959.

A virada

Na década de 1960, a maioria dos pequenos Anglia em solo americano já tinha sido transformada em lingotes de ferro e os que restaram não valiam quase nada. Mas o destino do pequeno Anglia estava para mudar, por conta da National Hot Rod Association (entidade que organizava competições de arrancada em solo norte-americano).
A National Hot Rod Association só permita, nas suas provas de arrancada, carros americanos e com distância entre-eixos maior que 94 polegadas. Mas, em 1963, essa regra foi alterada e alguns  perceberam que o “peso pena” Anglia passava a atender os requisitos da disputadíssima categoria “Gasser”.

Gasser

Na categoria Gasser competiam carros que podiam transitar normalmente numa via pública e que utilizavam apenas gasolina como combustível (combustíveis mais “potentes”, como metanol ou nitrometano, eram permitidos apenas para categorias superiores).  Essa categoria era identificada com a letra G, inicial da palavra “gasoline”, e ganhou o apelido de “gasser” (significaria algo como “gasolineiro”).

Anglia Hot Rod

Mecanicamente o Anglia era muito parecido com um Ford Modelo A 1928-31, mas em menor escala. Tal qual um Fordinho, o Anglia tinha motor dianteiro, tração traseira, suspensões com feixe de molas transversais e, na frente, um eixo rígido forjado. Com a experiência de anos transformando os Fordinhos em hot rods, modificar o pequeno carrinho inglês era serviço de alguns dias.

O diminuto motor, caixa de marchas e eixo traseiro eram descartados. A corta-fogo era removida, para dar espaço para um motor V8 e uma nova caixa de marchas. O eixo traseiro também precisava ser trocado, mas como esse era sempre mais largo que o original, os arcos dos para-lamas eram recortados e as rodas ficavam um tanto para fora. Na frente o eixo original era mantido, mas eram instalados freios com acionamento hidráulico.

Com essa receita os Anglia, que originalmente gastavam 25,5 segundos para percorrer os 402 metros, atingindo 83 km/h, passavam a gastar tempos na casa dos 12 segundos a 168 km/h! Como dizem os gringos: “Nada substitui as polegadas cúbicas!”. Ou seja, não há o que substitua um motor grande.

Inicialmente as regras não permitiam o uso de compressor nos Anglias, mas posteriormente esta restrição foi abolida. Com o V8 sendo alimentado sob pressão, os tempos ficavam na faixa dos 9 segundos com velocidade final de 240 km/h! Os primeiros donos desses carrinhos, quando novos, não podiam imaginar que estavam comprando “foguetes” sem o módulo de propulsão!

O fim da década de 1960 foi o auge dos Anglia nas pistas. Mas como as competições de arrancada estavam sempre evoluindo, o Mustang e o Camaro se tornaram mais competitivos e passaram a dominar a categoria Gasser.

O pequeno carro inglês, que atravessou o Atlântico como um despretensioso carro econômico, se transformou, quando já era  velho, em um veloz carro de arrancada que entrou para a história do hot rodding.

 

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