Empresário do interior do Paraná compra picape Chevy 1954 que já foi de novela da Globo e cria “Rato Caipira”

Texto: Flávio Faria
Fotos: Ricardo Kruppa

Chevy 1954

Quantos por aí podem se gabar de ter um carro que já foi apreciado por milhões de pessoas no Brasil inteiro e até em outros países? O empresário de Guarapuava, interior do Paraná, Sieghardt Johann Kleinfelder, de 35 anos, pode. O empresário é proprietário de uma picape Chevrolet modelo 3100, ano 1954 (conhecida como “boca de bagre”), mas não uma qualquer. Embora hoje tenha uma vida tranquila no interior, esta caminhonete já carregou na sua cabine nomes de peso da dramaturgia, como Regina Duarte. Sim, a própria “namoradinha do Brasil” já deu suas voltinhas nesta Chevy, mas anos atrás, quando o carro fazia parte do acervo da TV Globo, no Rio de Janeiro, participando das gravações da novela “Rainha da Sucata”. “A picape que a personagem Maria do Carmo dirigia era essa”, conta o empresário.

Mas não foi o apego pelas telenovelas que fez o empresário levar a picape para casa. “Na verdade eu estava procurando uma F-100, com para-lamas e estribos salientes, mas não encontrei. Então um conhecido me falou deste carro, que estava perto de casa. Fui ver e me apaixonei na hora. Levei minha esposa para dar uma olhada e ela aprovou a compra, gostou mais desse modelo do que da própria F-100”, comenta.

Pro xilindró, malandro!

O que inicialmente era apenas uma restauração normal, por influência de Hot Rods se tornou um projeto diferenciado. “Sempre desejei um projeto street rod, com o visual clean, pintura brilhante e rodas modernas, mas a revista me ajudou a mudar de planos. Na edição 46 li uma matéria sobre uma Chevy Rat. Levei a revista ao Valmir [responsável pela funilaria e pintura] e, paraminha surpresa, ele disse “vamos fazer melhor”. E assim fez”, conta Sieghardt, que teve a ideia de criar um “rat caipira”, com influências dos “rednecks” dos EUA. No entanto, nem todas as ideias que ele teve para o carro foram, digamos, bem aceitas pelas autoridades competentes. “Fui atrás de uma espingarda antiga para pendurar no vigia traseiro, mas não demorou muito e fui parado pelos “homens da lei”. Acho que pensaram que a arma fazia de mim alguém de alta periculosidade. E olha que ela nem atirava mais”, brinca o empresário. A arma foi para a perícia, passar por testes de balística. O empresário, para a cadeia. “Acho que não sou o primeiro rodder a ter problemas com a lei. O jeito foi tirar a arma e fazer uma homenagem a eles”, conta. A homenagem, no caso, é a frase “A inveja é a arma dos fracassados”. Acho que não precisa de explicações, né?

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Mais ferrugem

Noves fora os problemas “armamentísticos”,a restauração da picape traz tudo que há de melhor no estilo rat. A carroceria está na cor original e conserva muitos dos “podres” originais, além de alguns produzidos especialmente para o carro. “O carro já era azul, mas para fazer a personalização nós usamos alguns produtos “alternativos”, como conversores de ferrugem, verniz fosco e até soda cáustica”, comenta Sieghardt. Mas não só na parte de pintura foram feitas modificações. Os para-lamas traseiros foram alargados, masa caçamba foi encolhida, para que não se perdesse o alinhamento com os para-lamas dianteiros. O friso do capô foi refeito, soldado sobre a peça. Nem o para-choque traseiro foi poupado e recebeu uma reestilização. A madeira da caçamba é de demolição. Para tirar a cara de “cargueiro” do carro, o assoalho foi erguido em cerca de 15cm, o que deu um visual “engraçadinho”, segundo definição do proprietário. Os faróis dianteiros são do tipo “sealed beam” e os traseiros, em LED. Moderno, não? As rodas, de 16”, foram herdadas de uma Chevrolet C-10 ealargadas. Os cubos das rodas são do Opala e, para fazer as rodas caberem, foi necessário retrabalhar os seus centros no torno. Elas estão montadas em pneus Bridgestone, de medidas não informadas pelo proprietário. Alguns detalhes que fazem a diferença são a caixa de ferramentas feita de placas, que fica dentro do carro, e o baú sobre a caçamba. Segundo Sieghardt, os acessórios chamam muita atenção nos eventos.

Decisão da patroa

Por dentro, quem cuidou da decoração foi a esposa de Sieghardt, Melina. Os bancos têm a estrutura da picape Willys e foram revestidos em couro. Foram adicionados nesta parte também pinstripings, carpetes vermelhos e acabamentos cromados. Os instrumentos não são originais, mas adaptados de outros modelos da Chevrolet. O volante de dois raios tem cara de esportivo, mas o proprietário não soube dizer a marca ou a origem.

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Tudo em casa

Por baixo do capô está instalado um propulsor Chevrolet de seis cilindros em linha e 4.100 cilindradas. O famoso “seiszão” do Opala. A escolha, segundo o proprietário, foi natural. “Como este Chevy originalmente já vinha de fábrica com um motor de seis cilindros, o 261, acabei escolhendo o do Opala. É um motor moderno, fácil de achar peças e com boa potência. Por essas e outras, a escolha valeu a pena”, conta. O cofre do motor recebeu atenção especial e teve toda a fiação escondida.

“Tem gente que pergunta nos eventos se anda de verdade, porque parece de brinquedo”, brinca o empresário. Com 150 cv originais, o “seis canecos” vai bem com o câmbio mecânico de quatro marchas, o “four on the floor”. A suspensão dianteira traz o conjunto inteiro do Opala. Na traseira, foi mantido o sistema original. Foi feita apenas uma recalibração para diminuir a altura em relação ao solo. “Tenho medo de altura”, brinca o dono. Agregam-se à parte de dirigibilidade a direção hidráulica e os freios a disco, que mais do que itens de conforto, trazem mais segurança à condução. Sobre o desafio de se criar um rat, Sieghardt aponta a questão do “investimento”. “Gastar um monte para restaurar um carro antigo é sempre sinônimo de “meia insanidade”.Mas em um rat, que você gasta para deixar com cara de destruído, é um caso de internação”.

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