Comerciante de São Paulo até tentou comprar um Dodge, mas foi este Camaro Z-28 que lhe sorriu
Texto: Flávio Faria
Fotos: Ricardo Kruppa
Camaro Z-28
Aos 17 anos, o agora comerciante Jonas Anderson Vidmontiene, de São Paulo, já sabia do que gostava e o que queria: comprou um Chevrolet Opala SS 1971. A paixão por carros antigos, herdada do pai, que a herdou do avô, já estava no sangue. E de nada adiantou o pai, sabedor das dificuldades e transtornos que um carro antigo traz, tentar desmotivá-lo. Jonas foi lá e comprou. “Eu sempre gostei de carros antigos e queria muito ter o meu. Meu pai e meu avô mantinham alguns carros mas, por conta das necessidades da vida, acabaram se desfazendo deles. Até que, aos 17 anos, comprei meu Opala, de teimoso”, brinca Jonas.
Apesar do amor que Jonas nutre até hoje pelo Opalão, a necessidade de ter um carro econômico, para uso diário, fez com que o modelo da Chevrolet desse lugar a um carro popular. A vida seguiu, Jonas conheceu e se casou com Andressa e colocou a vida “em dia”. Aos 26 anos, formado em engenharia e cansado de gastar dinheiro no seu popular, decidiu que era hora de revisitar a velha paixão e possuir novamente um carro antigo. De preferência um Chevrolet.
“Sempre fui “chevroleteiro”, mas tenho alguns amigos “dodgeiros”, então decidi dar uma pesquisada. Procurei um amigo, conhecido como “Gordo dos Dodges”, e dei uma boa olhada nos carros que ele tinha. Nenhum sorriu para mim. Um dia o Gordo me ligou falando que tinha encontrado e comprado um carro para mim. Quando cheguei ao barracão e vi o Camaro de longe, já tive aquele sentimento de arrepiar os cabelos e pensei: “É esse”, conta. Depois de dar uma volta no carro, a certeza só aumentou. E o restante da negociação, como se diz, é história.
No mesmo dia o Camaro Z-28 1974 estava na garagem do comerciante. Quando chegou às mãos de Jonas, o Camaro estava em bom estado, tanto é que o comerciante usou o carro por cerca de três meses sem fazer nenhum reparo ou modificação. No entanto, a ideia de restaurar o muscle car já estava planejada, só precisava de um ponta-pé inicial. Um dia, depois de “dar um cacete” no Dart de um colega de infância, Jonas não tirou o pé e queimou as juntas de cabeçote do V8. Depois disso, estava decidido: “Já que vou ter de desmontar, vou fazer bem feito, bem apimentado”, conta.
Atomic Orange
Por fora, havia pouco a ser feito. “O carro estava íntegro, havia algumas reformas a ser feitas na parte externa, mas a parte do cofre, por exemplo, estava intacta”, contou Jonas. Se não havia muito o que reparar, o proprietário decidiu modificar. A começar pela cor. “Em uma viagem aos Estados Unidos vi um Corvette 2007 que tinha esta cor, chamada Atomic Orange. Decidi usar no Camaro porque é uma cor diferente, mas dentro das opções originais da Chevrolet”, explicou. Frisos, retrovisores, maçanetas, tudo no exterior estava em bom estado e foi mantido como chegou às suas mãos. Apenas a grade foi trocada. As rodas são da marca Boss 338, de 18”, montadas em pneus 245/40 na dianteira e 275/40 na traseira. Ao todo, o trabalho de restauração demorou cinco anos. “Fui fazendo gradualmente, conforme o tempo e o bolso permitiram”, conta.
Esportivo de luxo
Por dentro, toda a tapeçaria foi refeita. O interior pouco espaçoso e com teto baixo, como o de um carro de corrida, ganhou um toque de luxo com revestimentos em couro. O volante é original do modelo e tem por natureza uma pegada esportiva. Os instrumentos também não foram modificados. Nem restaurados. Estavam em excelente estado e assim permanecem até hoje.
400 + 150 = diversão!
Por baixo do capô do “Camarão” está um legítimo puro-sangue da marca da gravatinha: o propulsor V8 350”, utilizado também em Corvettes e até lanchas esportivas. Originalmente com 250cv de potência, este propulsor de bloco grande dá margem para preparações fortes. A escolhida por Jonas foi bem montada, de nível intermediário. Não é do tipo que fica insuportável e barulhento demais para andar na rua, mas já daria algum trabalho até na pista. Vamos à receita. Aspirado, como cabe a um bom V8 clássico, os pistões originais deram lugar a modelos forjados. Os cabeçotes receberam um retrabalho para melhora do fluxo e aumento da velocidade na mistura, além de válvulas maiores e um comando maior.
Um coletor de admissão Performer RPM, da Edelbrock, e um carburador Thunder AVS, de 650cfm de vazão, também da marca americana, são responsáveis por alimentar o 350” na medida da necessidade do pé direito de Jonas. Como não adianta soltar em cima e prender embaixo, os coletores de escape Full, da Hedman, com abafadores Flowmaster, dão a vazão que os gases gerados no motor precisam. Com essas trocas, o V8 chegou a 400cv de potência, um número respeitável para um carro de passeio. Mas eis que Jonas teve a grande ideia: por que não nitrar? E nitrou! O kit de injeção de óxido nitroso, da NOS, dá ao Camaro 150cv extras por alguns segundos.
É um exagero? É, mas daqueles que valem a pena. Para parar os 550cv, os freios originais foram substituídos por modelos a discos ventilados Willwood de 13”, com pinças de quatro pistões de Cadillac. A estabilidade do modelo fica por conta de algumas modificações na suspensão, com amortecedores Bilstein e rebaixada em 2” na frente. Os amortecedores são assistidos por molas extras, além das molas originais do carro. Esse retrabalho não deixou o carro exatamente confortável, conforme conta Jonas.
“O carro é baixo, tem a suspensão firme e rodas grandes, é muito esportivo para usar no trânsito. Para quem gosta de esportivos não é ruim, mas não tem o conforto de um carro original”, afirma. Este é um dos motivos pelo qual o carro atualmente não é usado todos os dias por Jonas. O Camaro também é o xodó da Andressa, sua esposa, que é muito ciumenta com a sua máquina. Este é o outro motivo pelo qual Jonas não usa o carro todos os dias.