Plymouth 1929 é customizado ao estilo dos bombardeiros americanos da Segunda Guerra Mundial
Texto: Flávio Faria
Fotos: Ricardo Kruppa
Plymouth 1929
A cultura Hot Rod se embaraça com a história americana recente. Os primeiros projetos de hot rods, feitos para correr nos lagos de sal, montados nas garagens e baseados nos modelos “A” e “T” da Ford, nasceram no pósguerra, muitos deles produzidos inclusive por soldados americanos que retornavam da Europa e de bases localizadas no Pacífico, como a do Havaí (isso explica os motivos havaianos utilizados em alguns projetos feitos nos dias de hoje). Um desses estilos, que até hoje é seguido em modelos “baratinha”, como os Fordinhos e seus equivalentes, é o “Bomber”, em que os carros recebem pintura e visual inspirados nos bombardeiros da Segunda Guerra Mundial.
Durante uma viagem aos EUA, o customizador e consultor da Hot Rods Norberto Jensen, de 47 anos, proprietário da Hot & Custons, teve um contato mais próximo com essa vertente da cultura hot. “Quando estive, no ano passado, no evento de Daytona Beach, na Flórida, tive a oportunidade de ver uma picape 1932 no estilo Bomber, um estilo incomum no Brasil”, disse o customizador, que acabou tendo a chance de ter um dos únicos exemplares no estilo em terras brasileiras. E com um modelo único. O Plymouth 1929 Roadster chegou às mãos de Norberto quase por acaso. “Este carro surgiu em uma conversa com um amigo que queria desocupar lugar na garagem. Quando eu vi o carro de perto logo tive a ideia de fazer um hot diferente, em um estilo que ainda não tinha sido visto no Brasil, um Bomber”, contou o customizador, que teve um carinho especial na restauração deste Plymouth, um modelo raro no país. “Existe uma quantidade grande de Fords e Chevys, mas Plymouths são poucos, por isso procurei ser detalhista na montagem”, explicou.
Baixo custo
A Plymouth, subsidiária da Chrysler Corporation, foi criada em 1928 com o intuito de levar ao mercado veículos de baixo custo, para rivalizar com os Ford e Chevrolet, grandes vedetes da época. Contudo, os modelos não alcançaram um grande sucesso e achar um Plymouth do início da década de 30 em bom estado é quase impossível. Norberto que o diga… Quando chegou às mãos do customizador, este carro estava em péssimas condições. “Tivemos praticamente que refazêlo”, comentou Norberto. O processo começou pelo chassi, que tinha 80 anos e originalmente foi projetado para um motor quatro cilindros. Como Norberto tinha planos mais ambiciosos para a parte mecânica, a peça foi desmontada, reforçada e boxeada para garantir estabilidade com maior potência. Seguindo o estilo Bomber, a pintura exterior traz diversos elementos que caracterizavam os aviões, como os desenhos de bombas riscados no lado do motorista – que nos bombardeiros representavam a quantidade de missões bem-sucedidas -, a pin up na traseira e, claro, o numeral da porta. Este, inclusive, tem um significado especial para Norberto.
“O numeral 04 é uma homenagem à data de nascimento do meu filho, minha esposa e também a soma dos números do meu aniversário”, explicou. As bocas de tubarão desenhadas nas tampas laterais do motor também fazem referência à aviação militar, mas no caso a um caça da época, o Tiger. Por ter um visual muito “quadrado”, o colete da grade original deu lugar a um modelo do Ford 32, com grade original. “Eu achava que o modelo original destoava demais da carroceria, que é curvilínea, então decidi utilizar a do 32, que combina melhor com as linhas do carro”, afirma. O para-brisa conta com a moldura original do modelo, basculante. Detalhe necessário em qualquer bom projeto de hot, os pinstripings foram feitos pelo artista Marcelo Lobão, amigo pessoal de Norberto. “Eu não deixaria essa parte a cargo de ninguém mais além do Marcelo, um grande profissional de tattoos e pinturas de época”, afirmou o customizador.
O tanque, à frente da grade, é uma referência aos hots que aceleravam antigamente. Segundo Norberto, eles tinham o tamanho exato para comportar a quantidade de gasolina necessária para uma corrida. No caso do Plymouth do customizador, este tanque não é utilizado, foi importado dos EUA e instalado no carro apenas por uma questão estética. O tanque que abastece o carro está localizado atrás do banco e comporta até 45 litros de combustível. As rodas são de 15”, com calotas importadas dos EUA. Os pneus são da BF Goodrich, nas medidas 215/70 na dianteira e 285/70 na traseira.
Por dentro da aeronave
O cockpit do “B-29” traz ainda mais referências aos gigantes dos ares. A começar pelos relógios da Classic Instruments, que tiveram o seu visual inspirado nas aeronaves de época. O interior foi forrado completamente por chapas de alumínio, com rebites, imitando a fuselagem de uma aeronave. banco é um dos grandes atrativos do projeto. Feita também em alumínio, a peça dá o toque final no visual. O conforto, neste caso, não foi a palavra de ordem, mas para o proprietário isso é detalhe. “A emoção de pilotar faz isso ficar em segundo plano. Para viagens eu já mandei confeccionar almofadas em tecido militar para serem usadas no assento”, conta.
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Primo distante
No cofre do motor do Plymouth está montado um motor Chrysler 318”, de oi to cilindros. É claro que não é o motor original do Roadster, mas é da família e agora tem mais de 300cv, que é o que importa! No propulsor, adquirido novo por Norberto, foram instalados dois carburadores quadrijet da Holley, cada um com 390cfm de vazão sobre um coletor Tunnel Ram. O V8 recebeu também um par de cabeçotes em alumínio da Edelbrock, além de comandos de válvulas 292º, tuchos mecânicos e balanceiros roletados. O sistema de escape é dimensionado e recebeu um coletor de cerâmica para ajudar no isolamento térmico, além de contribuir para o visual. Apesar de ainda não ter passado pelo dinamômetro, Norberto estima que a potência do motor seja de cerca de 330cv. O câmbio é mecânico, de cinco velocidades. A suspensão foi feita no sistema four-link, na dianteira com feixe de molas transversal e na traseira com coil-overs com regulagem de altura. Segundo Norberto, apesar do conjunto mecânico potente, o carro é bastante estável, mesmo nas aceleradas mais forte e é utilizado sempre que possível e que o tempo ajuda. Para esses momentos, inclusive, o customizador costuma ter uma companhia bastante especial. Toda a cromação foi feita pela empresa CSL Cromação.
Tal pai…
Além do Plymouth, outro “Bomber” ocupa a garagem de Norberto, um “mini-Plymouth” que ele fez para o seu filho Vitor, de seis anos. “Resolvi fazer uma miniatura do meu Bomber para ele, pois sempre que eu mexia no carro ele ficava com os olhos brilhando. Comprei a bolha de fibra desta miniatura e fizemos um chassi tubular pra ele. Instalamos um motor de quatro tempos, com cerca de 6cv, que permite uma performance muito boa. Por desejo dele eu copiei o estilo do meu carro e o resultado ficou muito bom. Tem as mesmas características, a não ser pelo numeral da porta, “2”, metade do meu.”, conta o orgulhoso pai. Um detalhe interessante é que o modelo utiliza rodas de aro 13, para ficar com um visual de hot e não de buggy. As rodas têm talas de 9” e os pneus Pirelli P-Zero foram riscados para imitar o desenho de um radial. Norberto diz não saber de onde vem a paixão do filho por carros antigos, V8 e rock. Alguém desconfia?
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Interessante nota.
Sou dono de um Plymouth 1929 modelo U conversível de 4 portas em excelente estado de conservação e estou considerando a possibilidade de vende-lo. Quem se interessar em ver fotos e eventualmente conhecer o carro, pode ligar para mim.