Série de artigos irá fornecer parâmetros que permitam avaliar se o preço pedido pelo carro tem a ver com a realidade ou é pura extorsão

Texto: Manoel G. M. Bandeira
Fotos: Ricardo Kruppa

O mundo dos hots tornou-se um mundo de negócios. Graças aos altos valores alcançados pelos carros, hoje em dia é comum que a grande maioria dos donos de hot rods considere a possibilidade de vender seus carros. No início da década de 1980 era justamente o contrário. Era muito raro que o dono de um belo carro, original ou hot, sequer cogitasse a possibilidade de vender seu “companheiro”. Mas quanto vale um hot rod? A rigor, qualquer coisa vale o que se consegue por ela, ou seja, não adianta pedir 100 mil reais e não vender, enquanto quem pede 60 mil reais vende. O que temos notado é que a falta de parâmetros está destruindo o mercado. Um carro na mão de fulano vale (ou ele pede) 100. Já na mão de beltrano vale (novamente, ele pede) 60. O pior é que, muitas vezes, o carro de 60 está superior ao de 100.

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Porém, seu dono está pedindo um preço justo, enquanto que o outro está praticando ágio em cima da possível venda do carro. Atualmente, os sites de anúncios de venda pela internet permitem que qualquer pessoa anuncie qualquer produto pelo preço que bem entender. Isso provoca uma reação em cadeia: quem deseja vender algo consulta primeiro os sites de vendas, depois anuncia seu produto por um valor um pouco acima dos demais. E isso acontece sucessivamente até que aquele que anunciou primeiro vê o anúncio do outro e acaba aumentando o preço no seu anúncio também. Isso vem acontecendo em praticamente tudo que é anunciado.

Há algum tempo, quando critiquei o pessoal que inflacionava demais os preços dos carros, muita gente do meio reclamou dizendo que o fato de algumas pessoas pedirem valores estratosféricos seria bom, porque assim os carros todos estariam sendo valorizados. Ledo engano. Carros antigos, sejam eles hot rods ou clássicos originais, têm, sim, um valor médio real possível de definição. Podemos nos basear no custo de uma restauração ou construção. Estes custos podem e devem ser calculados com preços médios de mercado. Em cima disso temos certa valorização pelo modelo e raridade de cada exemplar, e pronto, temos um preço médio, sujeito a pequenas variações, mas que se aproxima muito da realidade. É fácil entender como a coisa funciona. Se construir um hot custa “x”, por que eu vou comprar um carro pronto por “2x”? Lembrando sempre que temos de considerar o tempo de construção de um hot rod (que muitas vezes não é pequeno), como parte do custo.

No berço dos hots

Nos Estados Unidos, um carro base para um projeto, ou uma carcaça, como costumamos chamar, custa muito barato. Porque lá o pessoal já tem a consciência de que o mais caro é “fazer o carro”. Mesmo em relação a carros prontos, nos EUA os preços são baseados no custo da construção e nos equipamentos utilizados em cada projeto. É claro que, neste custo, temos algumas variáveis que valorizam determinados projetos, dando a ele “preços” bem acima do normal. Como exemplo, temos a assinatura de um projetista como Chip Foose, ou então um carro feito pelo eterno Boyd Codington. Mas mesmo estes têm limites. De resto, os carros têm um valor muito próximo do seu custo. Há de se considerar também o tempo médio de construção e o custo deste tempo. O brasileiro aprendeu há muitos anos que ele deve levar vantagem em tudo. Então, muita gente se esquece do custo na hora de vender. Porém, na hora de realizar o projeto, economiza em tudo, faz carros de qualquer jeito sem capricho ou carinho, apenas cuida para que o carro tenha uma boa aparência, e assim anuncia o veículo por valores que multiplicam o custo do carro várias vezes.

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Isso acaba prejudicando os bem-intencionados, pessoas que constroem carros simplesmente porque adoram fazer isso, os rodders de verdade. Estes se apressam em vender um carro recém-acabado apenas e tão somente para poder começar outro projeto, porque não podem ficar com a mente vazia. Geralmente estes construtores vendem seus carros pelo custo do projeto e muitas vezes até por menos que isso. Porém, devido ao inchaço do mercado, os possíveis compradores tendem a acreditar que um carro mais barato não é tão bom quanto um carro com preço mais elevado. E, muitas vezes, o carro mais barato é até bem melhor do que o carro mais caro. O que acontece é que seu dono não o fez com a intenção de ganhar dinheiro, fez apenas pelo puro prazer de construir, de criar, e só vai vender para poder começar outro projeto.

Preço justo ou extorsão?

A revista Hot Rods é uma revista séria. Nós, que participamos da revista e cujos textos são lidos por milhares de pessoas interessadas no tema, temos a obrigação de divulgar a verdade, de mostrar aos leitores, principalmente a aqueles que estão querendo entrar no meio agora, os números da construção de um hot rod, para que assim todos tenham noção do que vale um carro, ou do que é pura extorsão.

Para isso vamos apresentar, a partir da próxima edição, uma série de artigos sobre os custos de um hot rod, desde a construção do carro utilizando carcaça original e muito rara, até a construção de um kit básico de fibra de vidro. Vamos dividir com você, leitor, o prazer da busca por peças, as melhores opções de compras, vamos falar sobre mão-deobra e seus custos, rat rods, hots clássicos, nostalgia, custons, high techs, etc, não importa o estilo. Esperamos que, ao chegar ao final da série sobre este assunto, o mercado de hot rods volte a girar, e isso só irá acontecer se os preços estiverem bem mais próximos da realidade.

Este estudo pretende, além de delinear uma média de preços dos carros prontos, também orientar mecânicos, latoeiros (lanterneiros, chapeadores, funileiros), eletricistas, pintores, polidores, estofadores e mecânicos, sobre o que o mercado está pagando pela sua mão-de-obra, o que é justo e o que não é. É claro que o rodder, de posse destes números, também terá mais argumentos na hora de contratar um serviço em seu carro. Acompanhe as próximas edições de Hot Rods, participe enviando e-mais, só assim você ficara sabendo quanto vale seu hot.

1 COMENTÁRIO

  1. Eu creio que ainda o brasileiro está começando com a cultura Hot e isso leva a bastantes duvidas principalmente por reparos de boa qualidade e por falta de equipamentos que personalizem seu auto.
    O custo de importação e com o dólar alto mantem os preços altos destes veículos principalmente a quem se propõem fazer um hot de boa qualidade. Tenho a felicidade de ter dois hot classicos um dos anos 30 e outro da década de 40 . O da década de 30 mantive o mesmo padrão do anterior dono o qual não poupou tempo e nem dinheiro e simplismente me identifiquei muito com o modelo e sua construção, já o segundo muito bonito e chamativo mas ja resolvi fazer ele a minha cara personalizando seu interior pneus e rodas com tudo que achei que cairia bem com o modelo e tbem ao meu gosto. Se me perguntarem quando finalizará o projeto ainda não sei mas sei que vai valer a pena quando por ele nas estradas e ver o olhar curioso ou mesmo de admiração.

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