Pré-guerra e pós-guerra, a história contada pelos hot rods
Texto: Manoel G. M. Bandeira
Fotos: Ricardo Kruppa
Pré-guerra e pós-guerra
O ano de 1946 começava sob um clima de tremenda euforia. A maior de todas as guerras havia terminado e terminado bem, com a vitória dos aliados. O retorno dos soldados do front, a retomada da produção industrial, a enorme oferta de empregos e oportunidades contagiava a todos. Muitos soldados que haviam embarcado sem conhecimento algum em mecânica voltavam da Europa contagiados pelas conversas com amigos sobre os tais hot rods e também com algum conhecimento adquirido na manutenção das máquinas de guerra. Isso os estimularia a construir seus próprios carros utilizando peças e carrocerias dos antigos carros das décadas de 1920 e 1930, facilmente encontrados em ferros-velhos da época e ainda com preços muito baixos.
A indústria automobilística, por sua vez, iniciou uma corrida desenfreada pelo retorno à produção normal de carros, uma vez que a procura por novos modelos certamente seria muito grande. Na linha de carros populares, a saída encontrada para um retorno rápido foi justamente reeditar os modelos que eram fabricados no momento da interrupção da produção solicitada pelo governo no engajamento das fábricas de autos na produção de máquinas de guerra. Então, as duas principais fábricas, tanto a Ford como a Chevrolet, lançaram seus modelos de 1946 utilizando as mesmas carrocerias e chassis de 1942, com modificações estéticas como novas grades, lanternas e detalhes internos, porém mantendo principalmente as características mecânicas dos últimos modelos do pré-guerra.
Até meados da década de 1950, podemos considerar que dois grandes motivos impulsionavam o crescimento do movimento Hot Rod nos Estados Unidos. Eram eles a vontade de construir um carro melhor e mais potente que os demais, e também a falta de dinheiro para comprar um carro com potência suficiente para suprir a grande vontade de acelerar.
De hobby a negócio
Nos dias de hoje, construir um hot rod é extremamente caro e difícil, o que sem dúvida alguma elitizou o hobby elevando o padrão a pontos que divergem completamente do início do movimento. Os rodders do início do movimento até o começo da década de 1950, em sua grande maioria, construíam seus próprios carros em oficinas improvisadas ou mesmo no fundo do quintal de suas casas, utilizando peças e ferramentas de que dispunham, quase sempre com custo muito baixo. Bem por isso eram marginalizados e considerados como rebeldes.
Após o final da Segunda Guerra, pouco mais de cinco anos foi necessário para que o hobby começasse a atingir um patamar tão importante que passou a chamar a atenção de investidores e industriais da época. Eles passaram a ver ali um filão de mercado consumidor com potencial muito grande e algumas indústrias passaram a fabricar peças e acessórios destinados exclusivamente aos hots.
De 1946 a 1848, tanto Ford quanto Chevrolet mantiveram em produção, seus modelos baseados no pré-guerra. Eram carros redondos e altos, ainda apresentavam o corpo do carro mais estreito que os para-lamas e lembravam em muito os carros do final da década de 1930. Porém, todo este tempo, desde o final da produção de carros, em 1942, até o final de 1948, quando foi lançada a linha de 1949, foi utilizado na preparação e desenvolvimento de um novo conceito na produção automobilística.
Novo conceito
Os carros passaram a ser mais largos e mais baixos, a altura do teto diminui em relação à altura total do carro, o que fez com que diminuísse também a área envidraçada. Ao mesmo tempo, o pessoal dos hot rods também aderiu ao novo conceito. É comum vermos hot rods construídos com base em carros Ford ou Chevrolet de 1940 a 1948 com suas carrocerias totalmente alteradas para ficarem mais baixos e mais largos, como os novos carros das montadoras no início dos anos 1950.
A maioria desses carros não nos agrada muito, é comum vermos comentários do tipo: “Nossa, estragaram um Ford 1940 coupe”. Porém, se consideramos a época em que o hot rod foi construído, a tendência era justamente essa.
O início dos anos cinquenta marcou muito pela profissionalização das corridas de arrancada, que veio com a criação da NHRA, a construção de pistas especializadas e a criação da revista Hot Rod americana. Tudo isso contribuiu em muito para que houvesse uma espécie de separação do movimento Hot Rod, em que uma vertente passou a dedicar seus esforços ao esporte como competição de quarto de milha de arrancada, e a outra vertente convergiu para os carros ditos de exposição.
Nos anos cinquenta a preocupação passou a ser muito mais estética. Os bons e velhos hot rods clássicos, feitos apenas para acelerar mais e melhor, sem preocupação estética, só retornariam às páginas das revistas especializadas no começo do novo século com a busca pelas raízes que estimulou e continua estimulando muita gente a construir carros como se fazia no começo, sem muita preocupação com a estética e com a perfeição, apenas visando o prazer de rodar com um carro que foi você mesmo que projetou e construiu.
E o futuro?
É difícil prever o futuro dos hot rods, principalmente aqui no Brasil, onde tudo é caro e difícil. Há alguns anos,imaginávamos que não teríamos carrocerias disponíveis para a construção de novos carros. Porém, muitos carros e até pedaços de carros, acabaram vindo da Argentina e Uruguai, o que para o Brasil foi muito bom do ponto de vista da cultura, pois acabamos recebendo um patrimônio histórico que não era nosso. Mesmo assim, a falta de visão da classe política e das autoridades impediu e ainda impede que mais carros antigos cheguem ao Brasil, vindos dos nossos vizinhos latino-americanos, o que é um absurdo.
A construção e o desenvolvimento de carrocerias de fibra de vidro também cresceram muito no Brasil, mas ainda esbarramos no pior de todos os problemas, a documentação ou legalização da construção de hots.
O movimento Hot Rod já passou por duas grandes guerras, ele vive e sobrevive porque simplesmente faz parte da natureza humana criar, inventar e construir. A evolução nos leva a imaginar que em breve teremos hot rods elétricos rodando normalmente pelas ruas, embelezando as cidades, atraindo a atenção de crianças e velhos, com ou sem o ronco forte dos motores V8 o movimento deve continuar.
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aqui no brasil por mais que muitos não gostem o jeito de manter a cultura viva e mais carros surgindo é usar motores V6 e 4 cilindros pois V8 aqui por si so é muito caro e dificil