Modelos pós-guerra inovam com laterais quase retas, grandes porta-malas e novos conjuntos mecânicos
Texto: Aurélio Backo
Fotos: Divulgação
O ano de 1948 encerrou a era dos carros norteamericanos com para-lamas destacados. As montadoras, enfim, começaram a oferecer modelos mais modernos, após um longo período de estagnação devido à II Grande Guerra Mundial. O novo Ford 1949 foi apresentado ao público em julho de 1948 e enfim, após sete anos de espera, as revendas apresentaram algo realmente novo ao público. Deste novo e elegantíssimo modelo, duas características chamaram mais a atenção: as laterais quase retas e um longo e espaçoso porta malas. Até 1948, a Ford Motor Company, assim como muitos outros fabricantes, montava seus carros seguindo a tradição estabelecida pelos primeiros automóveis inventados: sobre cada roda, um para-lama.
O desenho destes carros pioneiros era a soma de três elementos básicos: o cofre do motor, o habitáculo dos passageiros e os quatro para-lamas. O Ford de 1949 deixou esta tradição para trás e, com isto, aumentou o conforto dos passageiros ao adotar um habitáculo mais largo e que, por razões estéticas, também era mais baixo (foram 12 centímetros que atrapalharam a vidas daqueles motoristas que gostavam de dirigir usando chapéu, algo comum naqueles anos…). Outra mudança do novo modelo, percebida apenas pelos mais astutos, era o motor deslocado um pouco mais à frente (12 cm). Esta alteração, aparentemente pequena, resultava também em maior conforto para os passageiros (que ficavam posicionados mais no meio do carro) e permitia também o alongamento do porta-malas.
Nova mecânica
Mecanicamente o carro também era completamente novo, exceto pela opção do motor de seis cilindros de 3,7 litros e 95 HP, que era idêntico ao ofertado no ano anterior. Como o Ford sempre foi associado ao motor V8, esta opção, disponível desde 1941, não era muito popular, mesmo sendo ótima para os motoristas que buscavam economia de combustível. Revistas da época reportavam que o consumo na cidade do motor 6 em linha era de 7,89 km/litro e para o V8, de 7,08 km/litro (que gasolina maravilhosa naquela época!).
O motor V8 ofertado no modelo 1949, apesar de fornecer os mesmos 100 HP e ter os mesmos 3,9 litros, era uma versão completamente revisada do famoso “flathead” dos anos anteriores. Esta unidade de força revisada contava com um novo bloco com admissão, exaustão e resfriamento aperfeiçoados (o que a tornou a versão preferida pelos hot rodders). Outra mudança significativa foi a mudança do distribuidor da frente do bloco para uma posição elevada e à direita do motor, o que facilitou muito a manutenção.
Equipado com esta unidade de força, o Ford 1949 atingia a velocidade máxima de 147 km/h contra 131 km/h do modelo anterior, que apesar de ter a mesma potência era mais pesado (comparando os modelos Coupés destes anos, a diferença de peso entre eles era de 70 quilos). Na época, um rodder poderia melhorar este desempenho apenas trocando o motor do Ford por um motor flathead do Mercury de 4,1 litros e 110 HP ou, numa adaptação mais ousada e trabalhosa, usar um flathead do Lincoln, o carro de luxo da Ford, que tinha 5,5 litros e fornecia 152 HP (que também equipava alguns caminhões Ford).
Customizados
Com o passar dos anos, os modelos 49, 50 e 51 foram pouco usados pelos rodders, mesmo sendo mais leves do que os modelos 1942-48. Quem efetivamente os adotou foram os customizadores, devido às suas características de estilo. Uma característica bem apreciada era a sua lateral quase lisa, que permitia fazer um carro extremamente elegante apenas “barbeando” os frisos originais, ou trocando os frisos por peças personalizados ou por frisos de outros carros, como o do Buick 1952/53.
Outra característica bem mais importante para o montador de um “custom” era a facilidade de rebaixar o teto, e este modelo tinha todo o potencial para esta intervenção: para-brisa com dois vidros retos e vidro traseiro pequeno e com bastante lataria ao redor, facilitando os ajustes. O estilo adotado pela Ford em 1949 (e por várias outras montadoras na época) se mostrou tão acertado que, ao longo de todos estes anos, foi apenas sendo refinado e permanece popular até os nossos dias com a denominação “sedan”, um carro com carcaça de três volumes: motor, habitáculo e porta-malas.