Ford 1951 “shoebox”: para campos de batalha

Ford 1951 “shoebox” descende diretamente do primeiro modelo a sair da linha de montagem após a guerra, mas este exemplar feito pela Divine 1 Customs foi colocado de volta no campo de batalha

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Fotos: Ricardo Kruppa

Ford 1951 “shoebox” descende diretamente do primeiro modelo a sair da linha de montagem após a guerra, mas este exemplar feito pela Divine 1 Customs foi colocado de volta no campo de batalha

Texto: Flávio Faria

Ford 1951 “shoebox”

Como é natural durante as guerras, a economia dos países sofre um bocado. Afinal, são necessários grandes esforços para a produção de armas, veículos e equipamentos em quantidades suficientes para abastecer milhões de combatentes, principalmente quando o campo de batalha está a um oceano de distância. No caso dos Estados Unidos, as montadoras da época, inclusive a Ford, entraram no “esforço de guerra”, dedicando-se ao trabalho com as Forças Armadas. Por isso, nenhum novo modelo foi apresentado naqueles anos.

Em 1949, a montadora de Henry Ford foi a primeira a mostrar um veículo totalmente novo, uma vez que todas as fábricas até aquele momento estavam apresentando apenas novas versões dos modelos pré-guerra. O design criado para aquele ano persistiu até 1951, ano deste custom personalizado pela americana Divine 1 Customs. Apelidado de “shoebox” (caixa de sapatos, em inglês), devido ao seu formato, o Ford 1949 chegou com um design marcante, com linhas bem demarcadas e uma grade que até hoje faz parte do imaginário dos apaixonados pelos carros daquela época.

Para 1951, o desenho da dianteira mudou um pouco, ficou mais aberto e com uma personalidade toda própria. O modelo das fotos, clicado durante o último SEMA Show, conseguiu ao mesmo tempo trazer uma cara única, com referências à Segunda Guerra Mundial, mas sem perder o charme de um verdadeiro ícone de época.

Ideias e prática

Mish Munoz, responsável pela Divine 1 Customs, teve diversos encontros com o dono deste Ford para decidirem o que deveria ser feito. T.J. Levin, proprietário, já tinha em mente uma personalização ao estilo militar, mas que ao mesmo tempo trouxesse características da cultura custom. Como isso seria feito ele deixou a cargo dos experientes customizadores. A carroceria recebeu pintura em verde oliva, totalmente fosca.

O número 76 pintado na carroceria é uma referência ao ano de nascimento de T.J., enquanto a quantidade de bombas pintadas na lateral (31) informa o dia do aniversário da sua filha. Na lateral está ainda o logo das Forças Armadas americanas com uma pin-up. E não qualquer pinup, mas a esposa de Levin. Maçanetas, frisos e ressaltos foram totalmente retirados, prevalecendo o estilo “shaved”, que deixa ainda mais evidentes as linhas do sedã. A grade, originalmente cromada, foi pintada em preto fosco, com os dois detalhes caracterizados como se fossem bombas.

O capô recebeu detalhes nas bordas como se fossem rebites, à moda dos bombardeiros da época. O para-brisa continua bipartido, como nos originais, só que um pouco menor, pois o teto foi rebaixado, para dar um ar mais “cool” ao custom, que também agora conta com uma enorme abertura superior, para dar uma “arejada” no cockpit. Faróis e lanternas tiveram seus detalhes cromados retirados. Para deixar o modelo ainda mais perto da terra, foi instalado um kit de suspensão a ar, que caiu como uma luva para esconder os pneus Coker de faixa branca, montados nas rodas Cragar, de 15”, pintadas de preto fosco.

Cockpit

Por dentro o piloto se sente praticamente em uma aeronave. Os bancos são de lata e o console central foi feito à moda dos bombardeiros de antigamente, com direito a chavinhas no estilo aviação. Aliás, por isso o título desta reportagem é “P-51”, em referência a um dos mais versáteis aviões de combate da Segunda Guerra Mundial, além, é claro, de trazer no nome o ano de fabricação deste belo custom. O chão está forrado com carpete, enquanto portas e laterais receberam chapas em aço com rebites. O painel também recebeu uma chapa rebitada e manteve os instrumentos originais. O volante é de época.

Forchevy

Por baixo do capô, para espanto geral, está instalado um Chevy Small Block 350”,com 325cv de potência. Apesar de pouco usual, a utilização de um bloco Chevrolet no cofre de um Ford clássico como este foi só mais um detalhe nesta incrível customização. Na parte da alimentação, optou-se pelo carburador quadrijet americano da Edelbrock, com filtro de ar da K&N. As tampas de válvulas também são da Edelbrock. Cabos de vela são esportivos e, além de melhorar as faíscas, ainda dão um belo visual ao propulsor.

A parte elétrica, aliás, teve que receber um grande incremento, com direito a uma bateria mais poderosa para aguentar o sistema de som fortíssimo patrocinado pela Kicker, composto de sete alto-falantes (quatro subwoofers) e unidade principal Apple com função touch, unindo o melhor da modernidade com o seu lindo visual old school. Terminando a parte mecânica, o escapamento é da Flowmaster. Para aguentar o tranco, o câmbio é um Turbo 350, automático, com acionamento na coluna. “Este carro foi definitivamente o trabalho mais intenso que jamais realizamos”, conta Munoz.

“A maioria das pessoas não leva um projeto ao nível de detalhamento deste carro como está agora”, continua o construtor. O proprietário, por sua vez, se mostrou extremamente satisfeito com o resultado. “Depois de passar por diferentes fases durante a construção, comecei a ver como a Divine 1 encarou este projeto de uma forma louca. Eu não poderia estar mais feliz com o resultado. Minha esposa na lateral como pin-up, o aniversário da minha filha com as bombas e meu ano de nascimento na traseira foram grandes ideias”, comenta orgulhoso.

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