De carroceria fastback que servia como “galinheiro” a um Torino Talladega para competição: dez anos, muita história e um clássico da Nascar com sabor V8

Texto: Bruno Bocchini
Fotos: Jason Machado

Cansar os modelos Plymouth Superbird e Dodge Daytona durante a temporada de 1970 da Nascar – associação automobilística norte-americana que controla os campeonatos de stock car dos Estados Unidos – não era tarefa fácil para o Ford Torino Talladega. Mas, mesmo não sendo campeão, o carro parecia mais equilibrado, sobretudo no estilo. Adonis Lykouropulos, paulistano de 38 anos, é entusiasta e apaixonado por automóveis Ford.

Dentre diversos modelos da marca ao longo dos anos, ele encontrou uma carroceria do modelo Torino fastback 1968 e, dez anos depois, transformou o carro no icônico Torino Talladega. “Um amigo encontrou a carroceria do fastback em um desmanche no interior de São Paulo, e como ele sabe que sempre participei de eventos automotivos e de corrida, me avisou. No momento em que vi a carroceria já imaginei o Talladega”, lembra Adonis.

O Torino havia sido adquirido ainda totalmente depenado e, da compra ao primeiro treino no Autódromo de Interlagos (SP), passaram-se dez anos. Inicialmente, Adonis levou a carroceria para um galpão particular – para dar início à remoção de pintura e massa. Na sequência, foram feitas funilaria e adaptações para homologar o carro para a disputa da categoria Força Livre do Campeonato Paulista de Automobilismo. “Deixei a carroceria em uma oficina para trabalhar a lata, pintar, adaptar. Mas, após dois anos de serviços, o resultado não ficou satisfatório. Decidi tirar o carro de lá, após muito prejuízo financeiro”, lamenta Adonis.

A carroceria ficou sete anos parada até que, em 2009, Adonis passou a trabalhar como gerente na Batistinha Garage. “Entrei na Batistinha e consegui reativar a ideia do projeto com o Torino. Nesta nova etapa, mudei o projeto com o intuito de enquadrar o carro na categoria Históricos V8 5000, que havia acabado de ser criada. Consegui um motor usado em bom estado, ganhei de presente um diferencial e, somados ao câmbio que eu já possuía, começamos a montagem mecânica”, conta. O grande desafio de Adonis foi a funilaria, uma vez que o carro não possuía os para-lamas dianteiros e sequer contava com capô.

“Mas, desta vez, a sorte estava ao meu lado e um de nossos clientes nos enviou um Torino 1968 para restauração completa, tornando possível usar o carro como parâmetro e molde para a confecção dos itens que faltavam no meu. Após concluirmos a funilaria, moldamos a frente alongada em 9” para deixar o carro tal qual a versão Talladega. A pintura foi feita em duas cores, alusivas ao estilo de pintura usado na Nascar à época, bem como a parte de adesivagem e o número gigante na porta”, descreve Adonis.

O gosto por automóveis e velocidade começou ainda na infância de Adonis, primeiro pela convivência com o pai e o irmão, que foi piloto de 1979 a 1998. “Por conta da convivência com meu irmão, sempre sonhei em ser piloto e participar do Campeonato Paulista. Como não tive incentivo, cheguei tarde para ser profissional, mas posso matar minha vontade guiando o Torino vez ou outra”, diz.

“Xô, galinhas”

A carroceria fastback chegou a São Paulo em uma plataforma que havia saído do interior. Logo após a compra, Adonis recebeu o carro com três galinhas dentro. “O carro estava servindo de galinheiro, pois o desmanche ficava dentro de um sítio. Obviamente eu não sabia o que fazer com as galinhas, mas logo o motorista da plataforma se prontificou a ficar com elas”, recorda.

Receita sem Caldo de galinha

O tratamento da carroceria com funilaria e pintura ficou a cargo da empresa Batistinha Garage – reconhecida no segmento. Já a mecânica do Torino foi feita pela oficina Automotor, também de São Paulo. Com motor 302 V8 de 5000cc, o conjunto conta com bielas, virabrequim e pistões originais Ford, trabalhando a uma taxa de compressão 9:1. A admissão é original em ferro fundido, e integra o sistema um carburador Motorcraft bijet, bomba de gasolina mecânica, coletor de escape original em ferro fundido e um tanque de 70 litros. A alimentação soma bobina MSD, módulo de ignição, distribuidor e velas originais Motorcraft. O câmbio escolhido foi um Clark de 4 marchas e a embreagem é da EmbreMarques.

Com 210 cv na roda, a melhor volta em Interlagos registrada ficou em 2’14”850, a 188 km/h de velocidade final. Para o futuro, Adonis pretende aliviar o peso do carro (que está em 1.800 quilos), além de realizar upgrades no motor para conquistar mais potência e melhores resultados nos tempos de volta em Interlagos.

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