Designer que já trabalhou em importantes projetos da indústria automobilística nacional monta hot em fibra praticamente sem componentes modernos
Texto: Flávio Faria
Fotos: Ricardo Kruppa
Fordinho
Construir um bom hot rod é trabalho para detalhistas. Opções aparentemente irrelevantes no projeto podem fazer a diferença no resultado final, para quem quer ter um carro com apelo diferenciado. E de projetos diferenciados o proprietário deste Ford entende. Designer de profissão, o paranaense Norton Bisetto já trabalhou em grandes projetos da indústria automobilística nacional, em uma época em que surgiam modelos ousados, baseados nos carros feitos em série. “Fui desenhista na Alfa Metais Veículos, que produzia os modelos Puma em Curitiba. Participei inclusive de projetos como o Puma AM3 e o redesenho do AMV, antigo GTB”, conta. Sem dúvida, é um belo currículo.
O projeto deste Ford foi ao encontro de um velho sonho de Norton. “Sempre quis criar um carro que fosse meu. Acabei encontrando um velho motor V8 Y-block encostado em casa e le foi o empurrão que faltava para eu começar a trabalhar neste carro”, diz.
A ideia de Norton era montar um carro que fosse, como define o proprietário, “Period Correct”. Por isso muito pouco do que foi utilizado no carro é contemporâneo. “Só a suspensão e a ignição eletrônica são modernos. Todas as outras peças são, no máximo, da década de 60”, comenta. O chassi é uma réplica do Ford 32, que foi retrabalhado para suportar as torções comuns de um conjunto mecânico com potência maior do que a original. A carroceria é uma réplica do Ford 31 “cinco janelas”. A escolha pela cobertura em fibra tem um significado.
“O projeto que eu tinha em mente possuía essa carroceria, mas achar um Ford 31 deste modelo em lata é uma missão muito difícil, por isso decidi utilizar a fibra”, conta. Este detalhe, porém, só pode ser percebido por quem olha o carro bem de perto. Com um estilo de hot “perdido no tempo”, como define o proprietário, é difícil não achar que se trata de uma carroceria original. Uma curiosidade: Norton não gosta de utilizar o termo “rat”. Segundo ele, seu objetivo era fazer um carro que aparentasse ter ficado muito tempo esquecido, guardado em uma garagem, o que os americanos chamam de “barn finded” ou “achado em um celeiro”. As rodas são originais do Ford Galaxie 67 na dianteira e do Cadillac na traseira, montadas em pneus de faixa branca Firestone nas medidas 6.70 na dianteira e 8.20 na traseira.
“Moderno”
Por dentro, impera o visual minimalista, bem no estilo “old school”. Segundo Norton, ele queria fazer um modelo inspirado nas estilizações dos anos 50. “Fiz no estilo 50´s, utilizando um painel “moderno” do Ford 53, como faziam na época, e um banco original, com o desenho imitando o de um carro daquela década. Aliás, no carro inteiro, tudo foi feito para remeter aos anos 50 e 60”, comenta o designer. O volante é um verdadeiro puro-sangue da Ford, herdado de um Mustang. Os instrumentos são originais do painel 53, exceto pelo contagiros, que foi instalado no local onde ficava um relógio.
Clássico
Como dito acima, o conjunto mecânico, encabeçado por um propulsor Ford Y-block, foi o “empurrão” que faltava para o designer começar o projeto. Até por isso, o motor é uma das partes mais prestigiadas do carro, bem exposta no cofre. Com 272”, o propulsor atualmente rende 170cv de potência, isso por conta de um sistema de alimentação difícil de se ver por aqui. “Em um leilão muito concorrido na internet consegui um coletor legítimo da Offenhouser, de 1957, para montagem de três carburadores”, conta o orgulhoso proprietário, que adotou três carburadores Holley 94 para fazer a mistura ar-combustível.
O câmbio é de três marchas, herdado de um Galaxie. O eixo traseiro é do Maverick GT, mas teve a relação do diferencial encurtada. O escape também foi montado com um projeto clássico, cujos abafadores podem ser retirados para dar mais fôlego ao motor. Com esse escape, é possível rodar no “modo urbano”, mais silencioso, e no “modo arrancada”, com o 272” gritando alto. Morador da pequena cidade de Imbituva (PR), Norton utiliza o carro praticamente no seu dia-a-dia.
“Essa é a vantagem de morar no interior, eu pego até um pouquinho de estrada”, comenta. Segundo ele, seu plano agora é terminar sua F-100 1965, feita com pintura fosca. “Estou fazendo este carro para rebocar o 31, bem no estilo “Bonneville”, planeja o feliz proprietário.