Conheça as formas de arte e expressão que surgiram com o ressurgimento das pin-ups: neo-burlesco, hot rod girls, suicidal girls e garotas pin-ups

Texto: Victor Rodder
Fotos: Divulgação

A origem do termo deriva justamente do ato de pendurar as ilustrações em algum lugar, e foi cunhado numa época em que mulheres recatadas se escondiam sob o “New Look” criado por Christian Dior, com saias amplas abaixo dos joelhos. A imagem das pin-ups foi responsável por colocar em evidência a sensualidade feminina de forma mais explícita e, mais tarde, se tornou símbolo da cultura pop e passou a ser cultuada por amantes do cinema, da moda e das ilustrações. Dentre as mais famosas estavam Bettie Page, Betty Gable e Marilyn Monroe. Nesta edição, o foco são formas de arte e expressão que surgiram paralelamente ao ressurgimento da onda pin-up, em meados dos anos noventa: o burlesco, ou melhor, o neo-burlesco; as hot rod girls; as suicidal girls e as garotas pinups, que criaram um estilo de vida trazendo para as ruas e o dia-a-dia o que até então estava nas fotos, nos calendários e nas ilustrações de Vargas e Evelgren.

Neo-burlesco Originalmente, o burlesco é um gênero teatral que remonta à Idade Média e ganhou notoriedade nos Estados Unidos entre 1860 e 1960, quando tornou-se a principal forma de entretenimento adulto da época, mesclando comédia, sedução e show business. É do teatro burlesco que se originaram os espetáculos de striptease e o humor pastelão. Após os anos 60, com a pornografia ganhando cada vez mais espaço, o burlesco foi sendo esquecido.

Até que, em meados de 1990, com o revival vintage, dançarinas como Dita Von Teese e Catherine D’Lish trouxeram esse tipo de espetáculo mais uma vez para os palcos, fazendo com que surgisse um movimento de neo-burlesco. Mais atrevido, intelectualizado e político do que o original, o neo-burlesco foge da pornografia e do explícito, sendo muito mais cômico e sedutor.

E acaba se confundindo, em alguns momentos, com a onda pin-up justamente pela origem vintage, pela sexualidade envolvida e, principalmente, pelo fato de que muitas das artistas burlescas também se aventuram pelo universo pin-up. No Brasil, alguns nomes vêm se especializando no estilo neo-burlesco, fazendo com que hoje o tema já tenha se incorporado à nossa cultura. Bem diferente de 2009, quando assisti ao primeiro show de Dita Von Teese no Brasil e ouvi comentários do gênero: “Que é isso? Já acabou? Ela não vai tirar a roupa?”

Suicide girls

Em 2001, em Portland, Oregon, Suhl Sean (“Sean”) e Mooney Selena (“Missy Suicide”) fundaram um site chamado Suicide Girls. O conteúdo do site eram garotas jovens, da cena gótica, metal, punk, indie e, claro, pin-ups ao bom estilo 40’s e 50’s, em fotos mais ousadas. Pornografia leve. Com as fotos, os perfis das garotas e informações sobre o que faziam, do que gostavam, o que ouviam.  Rapidamente o site cresceu muito, mudou sua base de operações para Los Angeles e transformou-se em um portal, reunindo comunidades on line, blogs de membros, fóruns e salas de conversação.

As garotas que posavam para o site passaram a ser conhecidas como os “suicide girls” e, encurtando uma longa história de sucesso que hoje envolve revistas, shows, filmes, camisetas e tudo o que possa gerar renda, o nome do site acabou se tornando sinônimo deste novo tipo de pin-ups: mais radicais e muito menos tímidas do que suas predecessoras das décadas passadas. De acordo com Missy, a “menina suicídio”, termo que deu nome ao site e hoje se tornou uma subcategoria de pin-ups, vem de uma passagem do romance Survivor  (1999) de Chuck Palahniuk, mesmo autor de Clube da Luta, que escreveu: “É a mesma coisa com essas meninas suicidas me chamando”.

HoT rod girls Essa é fácil, mas não posso deixar de comentar. Após o lançamento do filme Hot Rod Girl, em 1956, mais e mais a imagem das pin-ups foi sendo aproximada dos hot rods e, aos poucos, as revistas especializadas em carros passaram a investir e publicar fotos de modelos e fotógrafos que transmitissem algo mais ligado aos carros e nem tanto às clássicas pin-ups, chegando hoje ao que ficou conhecido como hot rod girl. As hot rods girls normalmente têm “mais a oferecer”. Estão para as pin-ups como os hots estão para os originais: vêm da mesma fábrica, têm basicamente o mesmo design, mas têm muito mais potência e atrativos. São mulheres com mais atitude, muitas vezes tatuadas e em poses muito sugestivas. Não chegam a ser suicidal girls, mas estão quase lá!

Pin-up girls

Hoje, as pin-up girls, garotas que fazem das pin-ups clássicas das décadas de 40 e 50 referência para um estilo de ser e vestir, não necessariamente estão ligadas a nenhum movimento musical ou cultural. Mas quando começaram a surgir, no início da década de 90, vinham principalmente da cena rockabilly norte-americana, que se inspira nos anos 50, e da cena psychobilly (gênero musical que mistura o punk do final dos anos 70 e começo dos 80).

Essas garotas passaram a usar na atitude e nas roupas elementos que vinham diretamente de algum armário de marinheiro da Segunda Guerra. Calças e saias de cintura alta, saltos, blusas xadrez e vestido de bolinha, tudo somado a tatuagens, piercings e muitos outros acessórios. Em pouco tempo a indústria da moda percebeu o potencial dessa tendência e investiu forte na ideia de pin-ups, fazendo com que hoje o termo pin-up tenha se popularizado e vulgarizado a ponto de grandes redes de varejo, como C&A e Renner, tenham linhas de roupas para pin-ups.

Pin-up makers

Atualmente existem fotógrafos especializados em oferecer “um dia de pin-up” em seu estúdio, como o britânico Tony Nylons, a norte-americana Charise Isis e as brasileiras Fernanda Preto e Mel Gabardo. Fernanda tem seu estúdio em São Paulo e Mel Gabardo – que desde janeiro vem colaborando com Hot rods – tem suas atividades baseadas em Curitiba, fotografa em várias cidades do país (e às vezes fora) e em seu estúdio especializou-se nos ensaios sensuais.

Apreciar a beleza e a forma é algo natural e, para isso, não precisamos saber se elas são pin-ups, burlescas, suicidal, hot rod girls ou, simplesmente, garotas que caíram de paraquedas no universo vintage. Olhamos e sabemos que é bonito. Mas tenho certeza que agora, diferenciando alguns aspectos entre as vertentes clássicas e modernas do universo das pin-ups, o assunto tenha se tornado um pouco mais interessante!

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