Para um Chevrolet ser apelidado de “clássico” significa que modelo é sensacional! Essa honraria é reservada aos carros da gravatinha azul de 1955, 1956 e 1957
Texto: Aurélio Backo
Imagens: Divulgação
Classic Chevrolet: 1955-56-57
Por definição, um automóvel antigo “clássico” seria um modelo refinado e luxuoso produzido até 1948 – um Cadillac V16, um Rolls-Royce, um Lincoln Continental. Para um Chevrolet ser apelidado de “clássico” significa que o modelo é sensacional! Essa honraria é reservada aos carros da gravatinha azul de 1955, 1956 e 1957.
No começo da década de 50, Chevrolet e Ford vendiam bem e havia uma disputa acirrada entre essas montadoras rivais pela preferência dos motoristas. Entre os motoristas jovens o Ford levava vantagem: equipado com motor V8 desde 1932, o Ford tinha fama de carro veloz, esportivo – era o carro dos jovens. Já um Chevy, com seu motor de seis cilindros, tinha a fama de confiável, de fácil manutenção e facilidade na revenda – era o carro do vovô…
Na Chevrolet, para 1955 havia planos para apagar esta imagem de carro de “senhor”, com um modelo completamente novo e um motor V8!
Um novo Chevrolet – “Baby Cadillac”
A nova carroceria desenvolvida pelo departamento de estilo da General Motors para 1955 lembrava o desenho do luxuoso Cadillac. Apesar de mais baixa, mais curta e mais estreita que a do Chevrolet 1954, apresentava um espaço interno maior. Vários elementos de estilo do Chevrolet 1955 comprovavam o parentesco com o primo rico Cadillac: na frente, as “pestanas” sobre os faróis e o belo para-brisa envolvente, que resultava em maior visibilidade (este já equipava o Cadillac a partir de 1954); na lateral da carroceria, um pequeno rebaixo na base do vidro traseiro, como que indicando o início do para-lama traseiro; na traseira, as lanternas ficavam nas pontas dos para-lamas, tal como no Cadillac. Na frente do carro havia também um toque europeu – uma grade inspirada nas Ferrari. Essa grade foi uma imposição de Harley Earl, o poderoso e genial chefe de estilo da General Motors.
Na hora de comprar seu novo Chevy, havia sete possibilidades de carroceria: conversível, coupe, sedan de duas portas e quatro portas, perua de duas portas e quatro portas e a perua de duas portas sem moldura na porta, a famosa Nomad. Foram mantidas as mesmas séries de 1954: Bel Air, a mais luxuosa, a Dois-Dez (2-10), intermediária e a “pelada”, a Um-Cinquenta (1-50). Todas as séries poderiam ter a pintura em dois tons, uma marca registrada da década de cinquenta. A mais bela era a combinação dos Bel Air, com a cor do teto descendo pelo porta-malas e parte dos para-lamas traseiros. O carro visto de trás parecia monocrómatico.
Desde 1929 o bom e confiável motor de seis cilindros em linha equipava os Chevy. A oferta de um motor em “V” de 8 cilindros “fisgaria” mais compradores. O desenvolvimento desse motor foi efetuado por uma equipe chefiada pelo engenheiro Edward Cole. Com sua experiência prévia no desenvolvimento do motor V8 da Cadillac 1949, sua equipe gastou apenas 15 semanas no projeto do novo motor. A certeza de Cole na qualidade desse projeto era tão grande que o motor foi posto para ser produzido diretamente do desenho da prancheta.
Com 265 polegadas cúbicas (4,3 litros), essa máquina fornecia 162 hp. Opcionalmente equipado com um carburador Quadrijet e coletores de escapamento duplos, a potência subia para 180 hp. Prova da excelência desse projeto era ser 18 quilos mais leve do que o motor de seis cilindros. Isso era decorrência de diversas inovações para a época como:
– Balanceiros estampados para acionamento das válvulas, que permitiam atingir rotações maiores, pois substituíram os pesados balanceiros maciços e o seu respectivo eixo de montagem.
– Varetas de acionamento das válvulas com um orifício central que conduziam óleo para o cabeçote.
– Coletor de admissão em uma só peça e com múltiplas funções: fixação do distribuidor, saída de água para o radiador, aquecedor da base do carburador e cobertura do vale central do bloco.
Para não afugentar a freguesia habitual, o motor de seis cilindros em linha continuou a ser ofertado. Foi completamente revisado mantendo os 3,8 litros, mas agora fornecendo 123 HP (esse era o motor que viria a ser fabricado no Brasil a partir de 1957 para equipar as picapes e os caminhões Chevrolet Brasil). Nos modelos com caixa automática Powerglide, a potência era maior: 136 hp.
Carroceria e motores novos exigiram um novo chassi. A equipe de engenharia desenvolveu um novo chassi à altura do novo carro: era 18% mais leve e 50% mais resistente que o 1954. Uma nova suspensão dianteira também foi adotada, com bandejas estampadas e terminais esféricos. Essa nova suspensão adotava uma geometria nas bandejas que minimizava a inclinação do carro nas frenagens fortes. Até 1954, ao frear forte um Chevrolet, a frente afundava bastante. Outro detalhe bem-vindo foi a adoção do sistema de 12 V. Outra modernidade eram pedais suspensos (antes saíam do assoalho), o que facilitava muito a manutenção do sistema de freios.
Na estrada, a bordo de um Chevy 55
Lançado em outubro de 1954, o novo Chevrolet foi o sucesso que a General Motors esperava.
Na revista Mecânica Popular de maio de 1955, um Chevrolet 1955 equipado com o motor V8 de 162 HP e caixa automática foi testado por Floyd Clymer. Floyd ficou surpreso com o desempenho do carro: velocidade máxima de 162 km/h e aceleração para um quarto de milha (400 metros) de 19,2 segundos.
O consumo foi de 8,2 km/litro a uma velocidade constante de 80 km/h. Donos do Chevrolet 1955 foram indagados quais as características do carro que mais lhes agradavam: potência do motor, desenho do carro, facilidade de condução, conforto e visibilidade. Um excelente carro!
A produção do Chevy 1955 fechou com um recorde de 1.704.667 unidades (230.000 a mais do que a Ford produziu do seu modelo 1955). Em novembro de 1955, o novo Chevy 1956 foi apresentado nas concessionárias.
Chevy 1956
O que fazer para melhorar algo que já era tão bom?
O modelo 1955 era deliberadamente limpo e menos “enfeitado”, para deixar uma margem de trabalho para o modelo 1956.
A General Motors gastou 40 milhões de dólares na criação do modelo 1956. Uma fortuna para a época!
A mudança mais evidente era a nova grade. Essa grade era a que os estilistas queriam usar já no 55, mas o chefe Harley Earl só a liberou para 1956. A nova grade tomava toda a frente do carro! Muitos dólares foram gastos para estampar o novo capô dianteiro e os novos para-lamas dianteiros e traseiros. Na lateral foram aplicados novos frisos que, nos Bel Air, levavam a cor do teto até os para-lamas dianteiros. Na traseira do 56, mais um detalhe de Cadillac: a lanterna esquerda era articulada, expondo o bocal do tanque de gasolina.
Em 1956 ficou ainda mais difícil escolher qual modelo de Chevrolet comprar, pois uma nova carroceria surgiu: a quatro portas sem coluna central. Essa versão apresentava a “jovialidade” de um conversível, com a conveniência das quatro portas.
O “design” sempre foi um dos melhores vendedores de automóveis. Dentro das concessionárias, os modelos conversíveis com apenas duas portas sempre eram admirados, mas na hora da compra, pela praticidade, os modelos fechados e em geral de quatro portas eram os mais escolhidos. Para atrair mais compradores, os modelos “hard top” (teto duro) foram criados: o teto, apesar de ser de metal e fixo, imitava o desenho do conversível sem a coluna central e sem molduras nas janelas. A Chevrolet passou a oferecer este modelo com duas portas em 1950, com excelentes vendas. Em 1955, os estilistas da Buick e da Oldsmobile foram além e criaram um modelo de quatro portas com estilo de conversível. Esse foi o novo modelo de Chevrolet adotado para 1956. Novidade que vendeu mais de 140.000 unidades (um desses está na minha garagem!).
Os motores oferecidos continuaram os mesmos de 1955, mas opcionalmente o V8 poderia fornecer agora 225 HP!
Em outubro de 1956, o novo Chevy 1957 foi apresentado nas concessionárias. A produção do Chevy de 1956 fechou com um recorde de 1.574.740 unidades (cerca de 200.000 unidades a mais do que a Ford produziu do seu modelo 1956).
Chevy 1957
A receita usada para fazer o 1957 foi a mesma usada para o 1956: mudou-se grade dianteira, capô dianteiro, para-lamas dianteiros, para-lamas traseiros, frisos, lanternas, para-choques, ou seja, basicamente só o habitáculo do carro ficou sem ser mexido…Nesse ano, o painel também foi mudado, usando mostradores circulares, em vez dos mostradores em “V” dos anos anteriores. Se um automóvel parecesse ser maior, a vendas aumentariam. Os projetistas usaram várias técnicas para “aumentar” o Chevrolet 1957. O capô dianteiro foi deixado mais baixo, na altura dos para-lamas. O para-choque dianteiro tinha duas grandes ponteiras nas extremidades, fazendo a frente parecer mais larga. Um carro mais baixo pareceria ser maior, e pela primeira vez num Chevrolet foram usados aros de 14 polegadas. E na parte traseira, o departamento de estilo aplicou os tão populares “rabos de peixe” (no Bel Air, os apliques laterais em alumínio pareciam as escamas do peixe!). Os “rabos de peixe” se projetavam em ângulo, dando a impressão de que o carro era visualmente mais longo e que, mesmo parado, parecia estar em movimento…
O grande “frisson” para 1957 estava embaixo do capô: injeção de combustível. Para a época, um carro sem carburador era uma grande novidade. Nesse ano, além do motor V8 de 265 polegadas cúbicas, a Chevrolet ofertou uma versão maior de 283 polegadas cúbicas (4,7 litros). Esse motor V8 283 e equipado com injeção de combustível fornecia 283 HP!
Símbolo dos Anos Cinquenta
Na época, a General Motors não sabia, mas com o Chevrolet 1957 ela estava lançando o carro que viria ser o ícone da década de 50. Curiosamente, o modelo 1957 vendeu menos que os modelos 1955 e 1956: 1.515.177 unidades. Mais interessante ainda: o Ford 1957 ultrapassou a produção do Cheyy em cerca de 170.000 unidades! O Ford 1957 era um modelo totalmente novo e a Chevrolet vinha pelo terceiro ano consecutivo com o mesmo modelo básico.
Por que o Bel Air 1957 se transformou num símbolo dos anos 50? Foi o herdeiro das grandes conquistas dos irmãos mais velhos 55 e 56; dos três, era o mais potente e mais veloz; era o que parecia maior e por fim… Tinha “rabos de peixe”!
Em 1958, a Chevrolet lançou um modelo totalmente novo, que herdou dos 55-56-57 apenas os motores e caixas. O Chevrolet 58 vendeu muito bem, mas era um carro maior e mais pesado, assim como os demais modelos de Chevrolet que o sucederam. E o objetivo da General Motors foi atingido: o Chevy passou a ser comprado pelos mais jovens, sem perder a preferência dos “vovôs” e das “vovós”…
VEJA TAMBÉM: Original: Buick 1950.