Junte várias “sobras”, uma carroceria Lakester e um estagiário louco para trabalhar em uma das melhores oficinas de hots do Brasil e surpreenda-se com o resultado

Texto: Flávio Faria
Fotos: Ricardo Kruppa

Ford Closed Cab 1930

Reconhecido em todo o Brasil pela qualidade na construção dos seus hots, Sérgio Liebel, rodder e piloto comercial de Curitiba, não é do tipo que gosta de deixar a oficina parada. Junto ao seu “copiloto” Sidney Lindbeck, Liebel é responsável por alguns dos maiores projetos do Brasil, que sempre são figuras carimbadas nas páginas de Hot Rods. Desta vez não foi diferente, ainda mais com um projeto que reuniu tantos elementos inusitados. “Inicialmente este não era um projeto que tínhamos em mente, até que um dia bateu na minha porta um rapaz de nome Marcos Besko, oferecendo-se para trabalhar como estagiário, para aprender a construir o seu próprio hot. Ele conhecia muito sobre todos os projetos da cidade, entre outros do Brasil e internacionais e já havia batido em várias outras oficinas com a mesma proposta e ninguém o aceitou.

Simpatizei com a ideia e o coloquei para dentro da oficina. Com o direcionamento do meu braço direito na oficina, Sidney Lindbeck, meu pintor João Duarte e eu, Besko botou a mão na massa durante pouco mais de um ano para que a Milica estivesse nas ruas”, conta Liebel. Milica é o nome desta picape Ford Closed Cab 1930, com carroceria de fibra produzida pelo renomado construtor curitibano Aurélio Backo. O nome, dado por Liebel, é uma “pequena homenagem” aos pracinhas que participaram da Segunda Guerra Mundial, conforme explicou o rodder. A ideia da homenagem veio também por conta do novo estagiário, isso porque o avô dele foi um dos combatentes da época.

Até então, este projeto era para um rat. “Este era um projeto de rat com pintura fosca, mas eu tenho fama de não conseguir me direcionar para este estilo, sempre acaba saindo um ‘rato de gravata’”, brinca o rodder, que na verdade utilizou na sua construção apenas peças sobressalentes de outros carros. “Foi um aproveitamento de peças de outros projetos, juntamos a uma carroceria Lakester que tínhamos, montamos de forma caprichada e assim ela nasceu”, resume o construtor. Na caçamba, um baú, presente de amigos de Liebel, dá o toque final no visual.

Senhorinha

Por fora, o visual da Milica é bastante sóbrio, voltado para o original, com os para-lamas e muitos cromados. O verde oliva da pintura é o mesmo tom utilizado em carros militares e o símbolo da porta é uma clara homenagem aos praças. “O logotipo utilizado na lateral externa e nas laterais das portas foi desenhado por Walt Disney e dado como presente aos nossos pracinhas. É inspirado no logo da ‘cobra vai fumar’, mas com características próprias”, explica Liebel. O teto foi rebaixado em duas polegadas, para dar um ar mais invocado.

A caçamba foi reestruturada e, na parte interna, foi criado um revestimento em chapa no mesmo molde das originais. Grande parte dos acessórios externos é original de época, como a grade dianteira, frisos dos para-choques, faróis e “cowlights”. Outros foram importados, como espelhos, sobrearos e calotas. Mas, segundo Liebel, não foram difíceis de conseguir. “Peças de Ford de época não são difíceis de encontrar. O único problema fica por conta dos altos custos de importação”, pontua o construtor. As rodas são aro 16, originais da F100, mas com furação de Opala. Elas estão montadas em pneus 5-60 na dianteira e 5-65 na traseira.

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Rústico

Assim como o exterior, a parte interna também acompanha as homenagens às tropas brasileiras. “Todo o interior foi construído por meu artista e customizador chamado Paulo, com sua esposa Gilmara. As laterais de porta, teto e bancos foram construídos artesanalmente sob medida para a cabine e cobertos com lona de caminhão para ter o efeito rústico”, explica Liebel. Os instrumentos são originais de época, restaurados para funcionarem sem problemas com a nova mecânica. O volante também é da década de 30. Um detalhe curioso é que a granada que foi utilizada na alavanca de câmbio é autêntica da Segunda Guerra Mundial e a medalha que está pendurada no espelho é uma das que foram dadas aos pracinhas que participaram da batalha.

Tamanho adequado

Experiente em projetos de picapes, Liebel já tinha em mente o motor ideal para compor seu projeto. “Decidimos instalar um motor de quatro cilindros da Chevrolet, original do Opala. Ele tem fácil manutenção e tamanho adequado para o cofre da picape”, explica. Com 2.3L de cilindrada, o propulsor rende cerca de 90cv de potência, que, aliada ao baixo peso da carroceria em fibra, torna os passeios bastante divertidos. A única modificação foi na parte de alimentação, com a adoção de um carburador com maior admissão de ar e combustível, o que rendeu alguns cavalinhos a mais. O câmbio é mecânico, de quatro velocidades, também original do Opala.

O sistema de suspensão, originalmente a feixe de molas, agora trabalha independente, graças ao sistema herdado do Opala, que garante mais estabilidade, principalmente em velocidades mais altas. “Ela ficou muito boa de dirigir, divertida e macia”, avalia o construtor. Segurança também é fundamental. Por isso, a Milica hoje conta com freios a disco na dianteira. Segundo Liebel, o carro faz bastante sucesso por onde passa. “Agrada muito o público em geral, mas principalmente as crianças”, comenta, mostrando que foi um sucesso a primeira empreitada do estagiário. Falando nele, será que Marcos já está envolvido em algum novo projeto? “Ele agora está trabalhando no seu próprio hot, uma picape roadster 1929, com carroceria de lata”, conta o “professor”. Estamos ansiosos para ver o resultado!

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