Conheça a história desta C-10 1972 revitalizada, que confirma a tendência de valorização das picapes nacionais “não tão antigas”

Texto e fotos: Manoel G. M. Bandeira

Chevrolet C-10 1972

Em 1978 eu começava minha busca por um F-1 1951 furgão. Naquela época ainda havia muitas picapes Ford F-1 rodando, mas era muito difícil encontrar um furgão. Lembro-me de sair uma tarde de moto para Campo Largo, em busca pelo meu sonho. Naquela tarde encontrei oito caminhonetes F-1, das quais três ainda tinham a caçamba original. Encontrei também uma GMC 1951 inteira, toda empoeirada, estacionada na garagem de uma fábrica de móveis. A imagem dela ainda está na minha cabeça, mas não adiantava: eu queria mesmo era um F-1 furgão. Passados 34 anos, o que me fez lembrar daquela época foi uma caminhonete C-10 1972 que tive o prazer de conhecer em evento recente na cidade de São Bento do Sul (SC).

Até pouco tempo não considerávamos as C10 como carros antigos. Mas quando fiz as contas, quase caí de costas. Em 1978 as F-1 1951 que eu tanto procurava, e que na época já eram consideradas como carros antigos, tinham apenas 27 anos de uso. Hoje, uma C-10 1972, como esta da qual falaremos neste artigo, já completou seus 40 anos de estrada. Talvez o motivo pelo qual demoramos tanto a considerar as picapes C-10 e F-100 como carros antigos seja porque essas máquinas foram produzidas durante muito mais tempo, em maior quantidade, e também pelo fato de terem mantido praticamente o mesmo desenho do projeto inicial.

Reconhecimento

Finalmente acordamos e a tendência é que, daqui para frente, mais e mais picapes nacionais sejam reconhecidas como raridades e tenham o tratamento que merecem para voltar a brilhar e embelezar nossas ruas e estradas. Um dos carros que chamavam a atenção em São Bento do Sul era justamente esta picape Chevrolet C-10 1972 de propriedade do rodder Marcos Treml. O motor original dessas picapes é um 6 cilindros 261 polegadas cúbicas (4,280 litros). Em outros tempos a primeira ideia seria a de trocar o motor. Porém, felizmente, uma aura de nostalgia pairou sobre o Brasil nos últimos tempos, e tudo que é nostálgico ou antigo nos agrada muito. O que poderia ser mais nostálgico do que customizar o motor da C10? Você não leu errado não, customizar o motor, por que não?

Mãos à obra

O velho 261 recebeu um belo coletor de admissão Offenhauser 2×1 e a carburação foi substituída por dois Carter Weber eletric choke. Desde então a C-10 não tem mais afogador, pois este sistema mantém a lenta alta enquanto o motor está frio. Esses carburadores são de corpo duplo com funcionamento em dois estágios. Ou seja, quando se pressiona pouco o acelerador só se abre o primeiro estágio. Mas quando se exige um pouco mais o segundo estágio entra em ação mostrando toda a capacidade dos dois carburadores. Segundo

Marcos, isso fez com que a C-10 ficasse mais econômica. O veículo recebeu também um coletor de escapamento dimensionado em ferro fundido da marca William’s. Não adianta melhorar a quantidade e a qualidade da mistura se não tivermos um sistema de faísca eficiente para queimar tudo isso. Foi instalado então um distribuidor GM Mini HEI. Como a quantidade de mistura oferecida pelo sistema novo é bem maior e mais eficiente do que a do motor original, é necessário também aumentar a capacidade de engolir tudo isso. O velho 261 recebeu um comando de válvulas Bulldog 410” 254/264 e novos tuchos mecânicos também americanos, mais leves do que os originais.

Com a alma nova, por que não fazer um upgrade também na parte externa do motor? A tampa lateral da casa dos tuchos foi substituída por uma nova em alumínio fundido da Offenhauser.

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Para combinar foi adicionado também um acabamento em inox aletado no cabeçote, com abertura para as velas da “Side Cover’s”. Com tudo isso vem a curiosidade: e como ficou a caminhonete para andar? Quais as diferenças sentidas com as modificações? Pedimos para o próprio Marcos Treml responder: “A C-10 já tinha um bom desempenho, pois o motor já havia sido retificado e o carburador original também já tinha passado por uma revisão geral. Já era possível alcançar mais de 130 km no velocímetro, mas depois das mudanças já coloquei 150 km e parei por aí.

Tinha mais motor ainda, que ninguém nos ouça. Hoje ela se comporta bem melhor. Posso, por exemplo, andar em terceira marcha a 40 km/h e acelerar com o pé em baixo que ela não falha, não dá excesso de combustível e o motor enche com força. Ficou com muito torque. Se eu pegar uma subida forte e longa, é como se estivesse acelerando no plano, pois a força é grande e o motor continua enchendo, o que me faz pensar em alongar um pouco o diferencial, pois sobra força no motor.

Podemos dizer que é boa de dirigir em baixa, pois o comando é considerado leve, é um leve veneno, compatível com o motor, que originalmente gira em torno de 3.800 RPM, não tenho contagiro, mais “imagino” que hoje deva girar uns 4.500. Não é um carro que se possa sair queimando pneu no asfalto… mais ficou muito bom para andar”, conta.

Marcos diz que gastou em torno de R$ 8 mil na “brincadeira”. Perguntamos também quanto vale a picape hoje. Ele sorriu de lado, demonstrando que o amor pelo carro é maior do que o valor em reais. Mas isso não importa, se alguém quiser se arriscar a fazer uma oferta, fique à vontade. Este artigo tem uma importância muito grande para mim, porque mostra que o movimento Hot Rod não vai morrer. Pelo contrário, tende a se fortalecer cada vez mais. As novas gerações dispõem de muita matéria-prima para trabalhar. A criatividade e a vontade de modificar e melhorar as coisas que habitavam o coração dos rodders lá no início do movimento ainda hoje enche os olhos de muita gente pelo Brasil e pelo mundo afora. Felizmente as coisas são assim, elas se renovam, e quando vemos aqueles meninos de mais de 70 anos brincando no deserto de sal nos EUA, como faziam na década de 1950, compreendemos que também nós fomos contagiados por algo incurável, porém muito bom.

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Você deve estar se perguntando se eu encontrei o furgão F-1 1951. Encontrei sim, primeiro um 1948, e depois tive mais dois do ano que eu queria, 1951. A F-1 1948 infelizmente se perdeu em um desmanche na década de 1980 e deve ter virado ferro de construção. Mas as duas 1951 ainda estão entre nós. Uma delas é amarela e constantemente nos reencontramos em eventos e reuniões. A outra esteve no evento de 2010 do Curitiba Roadsters, promovido pela Confraria do Hot. Estava toda na lata, completamente lisa e perfeita, o que me deixou muito feliz.

Dedico este artigo a Marcos Treml e a todos aqueles que querem começar a construir seu primeiro hot rod, e termino dizendo que façam isso, esse meio é muito legal, realmente vale a pena.

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